PJ ou CLT? Jovens profissionais reavaliam modelos de contratação

Áreas como a Comunicação e o Marketing são impactadas por movimento que questiona a lógica tradicional da carteira assinada. Especialistas analisam mudanças

Por um lado, estabilidade. Pelo outro, flexibilidade. Se fossem definidos em apenas uma palavra, cada um, poderiam ser caracterizados assim os modelos de trabalho CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e PJ (Pessoa Jurídica). Porém, a discussão entre os prós e contras de cada um destes vínculos é mais ampla - e está diretamente ligada às áreas da Comunicação e do Marketing. 

Pesquisas recentes mostram que, sobretudo entre os jovens profissionais, a decisão por iniciar em uma vaga pode estar relacionada ao tipo de vínculo empregatício. Circula pelas redes sociais, por exemplo, um movimento contrário à carteira assinada. Levantamento da Hibou Pesquisas e Insights apontou, pela primeira vez, que mais trabalhadores brasileiros entre 16 e 34 anos querem empreender (33%) do que os que preferem a CLT (32%).

Da mesma forma, dados coletados pelo Portal Comunique-se mostram que a maioria dos jornalistas brasileiros já atua por contratação PJ: são 54,1% em veículos 61,5% em agências. Parte dos profissionais também soma rendas de contratos como pessoa jurídica e carteira assinada.

Modalidade PJ sempre existiu, mas tem se ampliado

Na avaliação da coordenadora do curso de comunicação empresarial da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Denise Pagnussatt, a contratação PJ no setor da Comunicação sempre existiu. Porém, nos últimos anos, essa modalidade tem se ampliado. Especialmente, segundo ela, pelas mudanças sociais e a relação das pessoas com o trabalho, a carreira e a vida.

"Acompanhamos os jovens que estão entrando no mercado de trabalho, o que normalmente acontece com o estágio. Depois, começam as propostas relacionadas à CLT e PJ. Vejo bastante a relação de PJ em empresas do setor criativo, seja a contratação por job (trabalho ou projeto) ou mesmo PJ", analisa. Já no caso de empresas mais tradicionais ou de grande porte, Denise afirma que a admissão costuma ser via CLT. 

Para a professora, a escolha pelo contrato PJ pode ser impulsionada por algumas características, como a liberdade em relação ao tempo, a possibilidade de trabalhar em mais de uma empresa e o modelo remoto. "Mas isso não é regra. Acompanho estudantes que preferem a presencialidade ou o formato híbrido, separando as ocupações pelos espaços físicos", pondera.

Empresa opta por variação do PJ, com benefícios

Um dos exemplos de quem atua somente com contratação PJ é o da R3VERSA, uma empresa de Comunicação Estratégica de Porto Alegre. Ao estruturar a organização e formar o time de trabalho, a discussão sobre o tipo de modelo surgiu, junto com a assessoria jurídica. "Neste momento, conversamos com as pessoas que estavam no nosso time, com parceiros de mercado e com outras empresas que atuam com comunicação, além, é claro, de entender as questões jurídicas envolvidas", relembra a diretora de Estratégia e Negócios na R3VERSA, Simone Linck.

Tendo em vista algumas especificidades, como o fato de a maior parte das pessoas colaboradoras entrarem como estagiárias e seguirem uma trilha de desenvolvimento; além da preferência pelo modelo remoto, optou-se pelo PJ. "Com benefícios, como o 13?º salário, férias remuneradas e licença parental estendida, de 180 dias para mulheres e 30 dias para homens", acrescenta Simone. 

Na prática, como é passar pelas duas experiências?

Do outro lado do balcão, está o caso de profissionais como o da jornalista e mestre em Comunicação Social Regina Albrecht. Com um currículo extenso de passagem por veículos (Rádio Caiçara, Rádio Pampa, TV Pampa, G1 RS, RBS TV) e empresas de comunicação (Moglia Comunicação Empresarial e assessoria de imprensa da PUCRS), Regina já viveu ambas as experiências.

Porém, foi mais recentemente que realizou a transição para o PJ. "Em março deste ano, abri mão do CLT para me dedicar à minha própria empresa. Comecei com projetos paralelos, e, no momento que eu senti que tinha estabilidade financeira para apostar e me dedicar ao empreendedorismo, eu não tive dúvidas: foi a melhor decisão", assegura.

A agora sócia-fundadora da Real Comunicação e Marketing frisa que o processo ocorreu com cautela e planejamento, mas lembra que nunca considerou o CLT como algo 100% "certo". "Na minha opinião, isso (a carteira assinada) não é segurança de nada. Claro, a gente sabe que existe a segurança de todo dia 5 o dinheiro estar na conta, mas eu vejo isso como uma ilusão, pois a qualquer momento uma pessoa pode ser desligada", pondera.

Se colocar em uma balança, a professora Denise avalia os prós e contras dos modelos CLT e PJ. No caso do CLT, a coordenadora do curso de comunicação empresarial da PUCRS analisa que os pontos positivos são:

 os benefícios;
 estabilidade/segurança em relação às regras de demissão;
 possibilidade de crescimento na organização; 

Enquanto o PJ tem:
 maior potencial de ganhos;
 flexibilidade e autonomia;
 possibilidade de múltiplos clientes;

 carga tributária menor.

No caso dos pontos negativos, a docente cita, sobre o CLT:
menor remuneração líquida;
 menor flexibilidade;
 dependência de um empregador; 

Para o PJ, podem ser considerados contras:
 ausência de benefícios trabalhistas;
 instabilidade financeira; e
 burocracia com a gestão da própria empresa. 

Simone acrescenta que a maior aderência ao PJ com benefícios na R3VERSA está relacionada:
 à prioridade pelo modelo remoto;
 flexibilidade de horários;
trilha de desenvolvimento que não está enquadrada em júnior, pleno, sênior ou similares - padrões de faixa salarial entre pessoas no mesmo cargo presente do regime CLT. 

Ainda, a possibilidade de trabalhar como freelancer para outras empresas (Brasil e global); o gerenciamento do próprio portfólio; a "descrença" na segurança que a CLT poderia trazer -- frente a mudanças na lei trabalhista; o perfil geracional que não sonha com carreira e ascensão para "chefia"; e a questão de que não só a remuneração pesa para estar em uma empresa. Todos esses são fatores que podem causar esta chamada "aversão à carteira assinada", enumera a diretora de Estratégia e Negócios.

Para concluir, Denise faz um alerta: "Algumas empresas utilizam o contrato PJ para mascarar uma relação de emprego, exigindo subordinação e cumprimento de jornada fixa, mas sem oferecer os direitos da CLT", pontua.

Adaptação ao perfil do profissional é prioridade

Para tomar a decisão de seguir com um ou outro modelo, a professora da PUCRS afirma que, no caso da empresa, é necessário compreender bem qual a contribuição da vaga e qual perfil é ideal. No caso do contratado, ele precisa refletir sobre a sua vida e qual modelo melhor se encaixa. 

É isso que Regina também defende - a determinação do formato de contrato varia de acordo com as características do profissional. "Penso que as pessoas têm que estar abertas para o trabalho como um todo. Eu conheço pessoas que gostam do modelo CLT, que querem cumprir horário, bater ponto, serem lideradas. E está tudo bem", frisa.

Segundo ela, o "errado" é preferir se acomodar a seguir os próprios sonhos. "Não tenha a ideia de que o empreendedor trabalha demais e que não é isso que você quer para sua vida. Esteja aberto às oportunidades! Por outro lado, quem sonha com a vida PJ, também pode estar disposto a trabalhar no modelo CLT", complementa.

O que esperar?

Pensando no futuro das contratações CLT x PJ, as profissionais fazem uma análise do que se pode esperar em um prazo de cinco anos. A professora Denise diz que há muitas possibilidades de resposta, especialmente pelo avanço tecnológico, que tem remodelado o mundo trabalho. "Não posso afirmar nada neste momento. O que percebo é uma maior valorização do tempo e uma maior consciência sobre o que é importante para cada indivíduo", justifica.

Para Simone, os próximos passos dependem das discussões atuais sobre o tema da contratação PJ que tramitam no STJ, assim como de pautas relativas às leis trabalhistas. Tendo em vista o perfil geracional, a diretora da R3VERSA avalia que o modelo de gestão das empresas é mais relevante do que o formato de contratação em si.

Já Regina crê que o bem-estar dos profissionais virou prioridade. "Vejo que as pessoas estão buscando mais qualidade de vida - seja na liberdade de um modelo PJ ou de uma flexibilidade maior nas empresas", resume. Da mesma forma, considera que as oportunidades para o empreendedorismo estão cada vez maiores. "Há muito mais incentivo, informação, opção. Isso só tende a crescer, porque acredito que tem mercado para todo mundo!", conclui.

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