Menos cliques, mais influência: bem-vindos à era do GEO
Mais do que uma nova técnica, o Generative Engine Optimization reflete uma mudança no jeito de pesquisar, consumir e confiar em conteúdos on-line


Por muitos anos, o Search Engine Optimization (SEO) foi a bússola que guiou as estratégias de presença digital. Uma marca que queria ser encontrada precisava conhecer as palavras-chave, otimizar páginas e títulos, além de ter descrições precisas e links bem estruturados. Tudo isso em um jogo de estratégia, paciência e conhecimento técnico. Estar na primeira página significava cliques e conversões.
Mas o comportamento dos usuários mudou e a tecnologia acompanhou isso. Hoje, em vez de acessar vários links para encontrar uma resposta ideal, a integração dos buscadores com a Inteligência Artificial entrega respostas ágeis, completas e claras sem a necessidade do clique. O almejado topo da Search Engine Results Page (SERP), cujas primeiras posições foram tão disputadas, já não pode ser conquistado: ele pertence à IA.
Um estudo feito em maio deste ano pela Conversion em parceria com a ESPM revelou que 98% dos brasileiros já sabem o que é a Inteligência Artificial Generativa e 93,8% já utilizaram essas ferramentas. É nesse contexto que o Generative Engine Optimization (GEO) ganha relevância. Diferente do SEO, que mira nos algoritmos dos buscadores, o GEO foca em como ser útil, preciso e confiável dentro das respostas geradas por IA. Ele aponta para um novo tipo de otimização, que considera não só os mecanismos, mas os contextos e a intenção do usuário.
Mais conversacional, mais confiável
Quem acompanha de perto essa transformação é Annanda Gonçalves, gerente de Projetos de Marketing na Saftec Digital - que se posiciona como pioneira em GEO no Brasil. Ela avalia que as empresas vivem um novo capítulo: "A autoridade da marca tem sido um fator maior de preocupação e relevância em comparação ao simples ranqueamento". Para a profissional, nesse cenário, conteúdos mais coesos, fortes e bem direcionados são o ideal.

E o GEO está diretamente relacionado a uma mudança na forma como o público pesquisa e em como ele espera receber informações. A Conversion identificou que 62% dos brasileiros preferem a IA devido à geração de respostas rápidas e diretas. E isso vale também para os chatbots, como ChatGPT, Gemini e Copilot. E no outro lado do balcão, as buscas se tornaram mais complexas: em abril deste ano, Elizabeth Reid, responsável por Search no Google, afirmou durante entrevista que usuários estão fazendo perguntas significativamente mais longas e detalhadas.
Vinicius Fassa, líder de SEO na Brivia, pontua que as buscas se tornaram mais conversacionais e isso deverá se refletir na produção de conteúdo das marcas que querem se tornar fonte das IAs. "Precisamos ter em mente que ainda estamos escrevendo para humanos", salienta. Indo ao encontro disso, Annanda avalia que essas plataformas são vistas como amigos ou influenciadores, gerando uma relação profunda com o usuário. E alguns dados do levantamento feito pela Conversion abordam exatamente isso: 37,8% afirmaram que confiam muito nas informações fornecidas pela IA, enquanto outros 24,2% disseram confiar totalmente.

O SEO morreu?
Vinicius enxerga a relação entre SEO e GEO de duas maneiras: "De forma conceitual, o GEO é uma extensão do SEO, mas, de forma prática, é uma ruptura". Em relação ao primeiro apontamento, ele salienta que a Inteligência Artificial tem se alimentado de conteúdos feitos com SEO. Mas sobre o rompimento explica: "Quando trabalhamos com SEO visamos o clique, no GEO buscamos gerar influência dentro do site que a IA vai usar para se nutrir". Na prática, ambas as técnicas têm princípios semelhantes: clareza, utilidade e autoridade.
Já Annanda entende o GEO como uma ruptura nos padrões atuais de produção de conteúdo. Ganha destaque a construção de uma presença mais sutil, mas igualmente estratégica, pautada na reputação. "Não adianta mais só publicar no blog. A empresa precisa ser citada por outras fontes. Então, montar uma gestão de reputação é algo valioso", defende.
Tiago Rigo, professor e coordenador de Marketing da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), considera que muitas das estratégias do SEO continuarão úteis, visto que a IA busca fontes consideradas relevantes - medindo isso em acessos, produção de conteúdo, backlinks e referências. Ele imagina que, assim como o SEO desmistificou o Google, o GEO fará o mesmo com a IA, por ser um sistema baseado em modelos repetidos. "Quando conseguirmos produzir conteúdo para esses modelos, vamos virar o jogo", projeta.
Cultura do clique em declínio
A queda no tráfego de sites e blogs tem sido um dos sintomas mais visíveis da ascensão das respostas geradas por IA. Uma análise publicada em maio de 2025 pela BrightEdge buscou trazer insights do primeiro ano de funcionamento do IA Overview e identificou que as impressões de busca aumentaram em 49% no Google, enquanto as taxas de cliques (CTR) caíram cerca de 30%. Isso indica pesquisas mais frequentes, mas que não geram acessos.

O Marketing Digital, que se alimentava da cultura do clique, está diante da lógica da menção algorítmica. Tiago tem acompanhado esse movimento em relação ao tráfego orgânico e pago e acredita que mais mudanças estão a caminho. "Mudará inclusive o modelo de mídia e produção de conteúdo", projeta. Para ele, o norte das estratégias digitais passará a ser o volume de presença em respostas de IA.
Infelizmente, o rastreio desta métrica ainda é incompleto e o acesso a esses dados está em desenvolvimento, inclusive dentro dos chatbots. "O ChatGPT às vezes exibe os links que buscou e coloca uma UTM naquela URL, então você consegue ver no Google Analytics que o acesso veio dali. Mas só se tiver o link, na resposta não", explica.
Por enquanto, a verificação dessas menções pode ser feita de forma manual, com testes e respostas. "Faça perguntas sobre a sua marca para a IA. Se possível, todos os dias. Foi assim que o SEO começou: testando", destaca. Ainda assim, o professor acredita que não demorará para o Google disponibilizar essas métricas, pois a falta de clareza sobre a performance dos conteúdos afetará os investimentos na plataforma. E ele vai além: "Tenho uma hipótese de que poderemos pagar para estar no resultado da IA".

Quem são os profissionais de GEO?
O avanço do GEO abre caminho para um novo tipo de profissional. "Uma pessoa com visão estratégica de mercado para entender tendências e fazer benchmarking de forma cirúrgica e prática", define Annanda. Para ela, a vantagem estará com profissionais voltados a dados, resultados e métricas, mas que tenham feeling de mercado e domínio da comunicação.
Vinicius também salienta que o SEO sempre foi uma área multidisciplinar e isso precisará ser mantido na era do GEO. "Temos gente da tecnologia, do design, do jornalismo, entre outras especialidades. Mais do que nunca, precisamos dessas pessoas e que elas tragam uma mentalidade analítica e estratégica", pondera. Complementando essa visão, Tiago alerta que esses profissionais precisarão ser acima da média no uso dos recursos de Inteligência Artificial, indo além do que o usuário comum faz.
Até porque são eles que precisarão aculturar o mercado sobre o valor estratégico dessas novas práticas. Para Vinicius, as técnicas de SEO e GEO são "invisíveis". "Quando eu faço um site, ele é visível. Mas não tem como ver que as imagens estão todas com alt, organizadas e nomeadas, por exemplo", afirma. Essa invisibilidade também ocorre com a gestão de reputação e, segundo Annanda, um dos desafios será o de fazer o cliente compreender que essa estratégia é um complemento aos demais planejamentos da marca e não algo concorrente. "Precisa de tempo. É um trabalho contínuo, que leva meses para gerar efeitos mais sólidos", pontua.
O futuro é da credibilidade
Em pesquisa realizada em janeiro pela Ipsos e pelo Google, 62% dos brasileiros se mostraram animados ou extremamente animados com o uso da IA em pesquisas on-line, enquanto 44% também nutrem uma percepção positiva sobre os chatbots, como o ChatGPT. Além disso, 59% consideram importante ou muito importante o papel da Inteligência Artificial em simplificar informações.

Para que as marcas aproveitem esse otimismo, Annanda prevê que o GEO exigirá uma mentalidade voltada à credibilidade, confiança e relevância. "Acredito que o conceito de gestão de reputação crescerá de forma exponencial, justamente para trabalhar essa viabilidade de aparição nas IAs", antecipa. E a própria Inteligência Artificial será uma aliada: "Acho que vamos avançar mais rápido do que avançamos com o SEO, pois a IA trará os insights que precisamos".
Isto é algo que também se aplicará à captação de dados, afirma Tiago. Se por um lado a Inteligência Artificial embaralha as métricas atuais, por outro, ela poderá oferecer o caminho para uma mensuração mais eficiente no futuro - e não apenas nas buscas on-line. "O grande desafio hoje ainda é cruzar o on-line e o off-line e eu imagino que a IA vai nos ajudar a fazer esse cruzamento", projeta. E apesar do GEO, Vinicius defende que o SEO vai se perpetuar. "A vantagem é que não vamos olhar apenas para o clique, mas para uma questão semântica e para todo um mapa de influência, trabalhando tudo que o usuário pode perceber", explica.
A transição do SEO para o GEO é mais do que uma mudança de sigla: é uma transformação profunda na forma como as marcas constroem sua relevância digital. Em vez de disputar posições em páginas de busca, será preciso conquistar espaço nas respostas inteligentes, o que exige autoridade, consistência e visão estratégica. Na era do GEO, o valor não está mais apenas no clique, mas na capacidade de ser referenciado, confiável e reconhecido como fonte legítima. O futuro da presença digital será silencioso, contextual e cada vez mais orientado por reputação.