Modelo de negócios movido a dados ainda está em construção
McKinsey projetou um 2025 data-driven, mas estudo do Brivia Group mostra que ainda há um longo caminho a percorrer

Em janeiro de 2022 a McKinsey publicou o relatório 'The Data-Driven Enterprise of 2025', que trouxe sete projeções sobre como as empresas estariam operando em um mundo movido por dados neste ano. Ao revisitar esse estudo, é possível perceber de forma mais concreta onde estão os avanços, as lacunas e as contradições em relação ao que se esperava há três anos e meio.
Para Roberto Ribas, Chief Strategy Officer (CSO) do Brivia Group, o levantamento foi muito otimista. "Temos uma evolução relacionada a 2022, mas está longe do 2025 que foi previsto", avalia. Essa afirmação surge em concordância com os insights gerados pela empresa na pesquisa 'Maturidade Digital | Future Readiness 2025', realizada em parceria com a Alvarez & Marsal e o Instituto Caldeira.
O objetivo do estudo foi entender como as empresas do Rio Grande do Sul têm navegado pelos avanços tecnológicos, diagnosticando o nível de maturidade digital dessas organizações. É com base nele que Ribas ajuda a traçar um panorama sobre até que ponto a promessa da cultura data-driven feita pela McKinsey se aproxima da realidade gaúcha.
Previsão 1: dados estarão embutidos em cada decisão, interação e processo
Segundo a McKinsey, até 2025, quase todos os colaboradores usariam dados de forma natural e regular. A cultura orientada a dados permitiria automatizar decisões rotineiras, liberando tempo para inovação e colaboração. No estudo gaúcho, foi percebido que essa realidade começa a se consolidar: 83% das empresas afirmam tomar decisões baseadas em dados em nível estratégico, tático e operacional.
Contudo, Ribas ressalta que, apesar das empresas responderem positivamente quando perguntadas sobre o uso de dados, elas ainda se apoiam em informações internas e pouco conectadas ao ambiente externo. "A inteligência de dados ainda é um pouco rasa, superficial. A integração ainda é frágil", afirma. Além disso, o uso dos dados ocorre principalmente para entender o que já aconteceu: apenas 58% das organizações gaúchas possuem capacidade preditiva.
Previsão 2: dados serão processados e entregues em tempo real
Dispositivos conectados coletariam e transmitiriam dados continuamente, permitindo insights imediatos, aponta o relatório de 2022. Além disso, novas arquiteturas e tecnologias acelerariam decisões, enquanto recursos avançados de análise, como a Inteligência Artificial (IA), tornariam-se mais acessíveis. Para o executivo, alguns setores estão próximos dessa realidade, como o Financeiro, com tecnologias como Open Banking e Open Finance, e o e-commerce, apoiado pelas big techs.
No entanto, outras áreas ainda enfrentam lacunas de infraestrutura: "Processar dados e fazer esse armazenamento em alta escala é caro". Embora esse custo esteja diminuindo, ainda requer investimentos que estão fora da realidade de algumas organizações. No estudo do Brivia Group, 56% das empresas relataram baixa percepção de alocação de recursos para o teste de tecnologias emergentes.
Previsão 3: armazenamento flexível de dados, integrados e prontos para uso
Até 2025, bancos de dados aumentariam a flexibilidade. Isso facilitaria a análise de dados não estruturados e aceleraria o desenvolvimento de soluções baseadas em IA. Porém, o cenário no Rio Grande do Sul é diferente: só 50% das empresas conseguem integrar informações sobre clientes e atendimento em uma única base. Além disso, a omnicanalidade caiu sete pontos percentuais, ficando em 53%, o que reforça a falta de integração. "Os dados ainda ficam em 'silos', separados por áreas", destaca Ribas. O uso desses dados vai além da tecnologia, pois depende da capacidade humana de interpretar e correlacionar essas informações.
Previsão 4: modelo operacional de dados é tratado como produto
De acordo com a McKinsey, os dados seriam organizados e gerenciados como produtos, com equipes dedicadas para segurança, integração e acesso analítico. Os produtos de dados evoluiriam continuamente para atender às necessidades dos usuários, o que reduziria tempo e custo na implementação de soluções. Porém, segundo Ribas, isso ainda é distante da realidade das empresas locais.
Atualmente, esta Inovação é mais incremental e possibilita a construção de linhas de receita baseadas no aprendizado de dados. "Vou melhorando meus serviços e produtos com base no comportamento e no consumo", explica. Para alcançar a previsão da McKinsey, o executivo entende que as empresas precisam adquirir um raciocínio disruptivo que permita "desmontar o negócio e montá-lo de novo".
Previsão 5: ampliação do papel do Chief Data Officer (CDO) para geração de valor
Os CDOs e suas equipes passariam a atuar como unidades de negócios com foco em resultados. Além disso, desenvolveriam estratégias corporativas e novas formas de usar os dados, monetizariam serviços e promoveriam compartilhamento de dados para gerar receita. Contudo, Ribas aponta que muitas empresas ainda enxergam a tecnologia como um fim, e não como um meio para acelerar o negócio.

Isso reflete na falta de estruturas dedicadas à gestão estratégica de dados. "Não é sempre que encontramos um CDO em uma organização. Ele ainda está no patamar tático, sem uma cadeira para falar somente sobre dados", afirma. Um dos fatores que interferem nessa evolução é a rigidez nos setores de Tecnologia: "Isso tem a ver com a agilidade e a cultura digital da empresa. No nosso estudo, essa capacidade que a empresa tem de ser ágil é uma das notas mais baixas, com 65%".
Previsão 6: participação em ecossistemas de dados se torna a norma
Organizações usariam plataformas de compartilhamento para colaboração interna e externa, facilitando a troca, a integração e a complementação de informações, aumentando o valor dos dados e possibilitando produtos e insights exclusivos. Ribas destaca que a dimensão colaborativa avançou, mas que ainda existe muito protecionismo: "É difícil uma empresa abrir dados sensíveis ao ecossistema".
O levantamento do Brivia Group apontou que a integração com ecossistemas avançou 16 pontos nas empresas gaúchas, alcançando 82%. Além disso, 89% delas já buscam relacionamentos com universidades, governo e mercado, enquanto o mesmo percentual mantém uma rede de parceiros que expande a capacidade operacional. "Mas quando falamos sobre os dados estarem disponíveis dentro desses ecossistemas, acho que estamos bem mais atrás", diz.
Previsão 7: gestão de dados é priorizada e automatizada para privacidade, segurança e resiliência
Em 2025, privacidade, ética e segurança de dados se tornariam competências centrais das organizações, com processos automatizados e ferramentas de IA que garantiriam acesso seguro, recuperação rápida e maior confiabilidade dos dados. Ribas aponta que o avanço até aqui é mais regulatório e cita como exemplo a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). "Precisamos amadurecer muito com relação à nossa responsabilidade como usuário, de saber que tipo de dados a gente fornece, como que tratam os nossos dados e como cobrar as empresas sobre o uso deles", afirma. Para o executivo, a tendência é que o mundo, cada vez mais, crie barreiras para o uso aleatório dessas informações, principalmente pelas big techs.
O desafio é humano
Apesar dos avanços registrados, o retrato que emerge é o de um ecossistema ainda em construção, que já assimilou a importância dos dados, mas carece de maturidade cultural. É por isso que Ribas acredita que, em termos de cultura de dados, o mercado atingiu menos da metade do que foi sugerido pela McKinsey. "Acho que essas previsões são para 2029 ou 2030", afirma. Além disso, o executivo não descarta a possibilidade que o próximo ciclo de três anos seja mais acelerado do que foi entre 2022 e 2025.
Para Ribas, as previsões feitas foram relevantes, mas pecaram no otimismo. O executivo entende que a próxima etapa dependerá não apenas de investir em infraestrutura e segurança, mas de desenvolver competências humanas e modelos de negócio que assimilem melhor a cultura de dados. "Acho que tendemos a ser otimistas quando falamos em tecnologia, porque ela evolui em uma esteira muito rápida. Mas a nossa capacidade de adotá-la e usufruir da melhor forma possível é muito mais lenta", finaliza.
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