Você já imaginou viver em uma cidade sem nenhum veículo de informação local para tratar das notícias e contar as histórias do lugar? Pois esta é a realidade em 2.712 (48,7%) dos municípios do país. Vinte e seis milhões de brasileiros vivem nos chamados desertos de notícias, locais que não têm veículos de imprensa independentes. Para quem nasceu em uma pequena comunidade, como eu, natural de Tapejara (RS), é mais fácil compreender esses dados, apurados pelo Atlas da Notícia. No interior do Brasil, entendemos o desafio que é manter de pé um veículo de comunicação local, seja para os antigos donos de rádios que obtiveram concessões públicas e agora precisam se digitalizar ou para os portais nativos digitais.

A equação econômica para prosperar com jornalismo é delicada. Assim tem sido até mesmo para os grandes grupos de comunicação com revistas, jornais, rádios, TVs e portais nacionais. Quase todos sofreram um baque com a digitalização e a emergência das plataformas sociais e de anúncios. Muitas marcas e canais históricos desapareceram. Assim também tem sido para veículos locais.

A notícia boa para esses negócios é que fica muito mais fácil passar por uma transformação digital com uma estrutura mais enxuta e de pequeno porte. O insumo mais importante, os veículos e portais de notícia locais já têm: proximidade, confiança e acesso fácil à comunidade. A notícia global virou commodity, chega na tela do computador, no celular, no rádio, ao mesmo tempo, por várias fontes. Em contrapartida, o jornalismo local tem o que ninguém mais tem: o acesso fácil à população do lugar, para contar as suas histórias e discutir as questões da comunidade. Essa é a grande fortaleza dos pequenos publishers, e esse poder é transformador. Nós, da Alright, uma startup de mídia com soluções que ajudam a dar viabilidade econômica para o jornalismo local, levamos essa crença tão a sério, que ela passou a fazer parte do nosso propósito de negócio: "fortalecer a formação de comunidades em torno de veículos de comunicação local e especializada, atuando como agente de transformação e aceleração de negócios digitais".

As soluções que a Alright oferece para que os publishers ampliem a monetização sobre sua audiência, conectando-os, por meio de nossa tecnologia, às grandes redes de anúncios (inclusive Google Ad Exchange) e grandes anunciantes, são fundamentais para o equilíbrio econômico dos veículos locais. Mas sabemos que, sozinhas, não garantem a sobrevivência. Precisam ser acompanhadas de outras estratégias.

Pensando nisso, lançamos neste ano o Guia Alright 2024 - Como Transformar Tendências em Ações, com conteúdo de altíssima relevância para os publishers de todos os cantos do Brasil. É uma espécie de manual de sobrevivência e crescimento para os veículos. Que começa com o mais importante: a necessidade de valorizar a cultura local e o senso de comunidade. Na disputa pela atenção, é imperativo que os portais regionais direcionem seus olhares do macro para o micro, valorizem os saberes locais, contem as histórias do lugar e de suas pessoas. Essa visão se coaduna com uma tendência global em comunicação digital: a formação de comunidades, não necessariamente por proximidade, mas também por interesses. O que toda grande marca busca, que é fazer parte da conversa de uma comunidade, os publishers locais têm alto potencial de construir e oferecer a seu público e anunciantes.

Existem várias ações práticas que os veículos podem adotar para fortalecer os vínculos com e entre sua população. Criar canais em plataformas como WhatsApp e Telegram, para conexão da audiência, atuar em colaboração, e não como concorrentes, com influenciadores e negócios locais, fazer enquetes para entender os sentimentos e interesses da audiência são algumas das ações que colaboram para o desenvolvimento da localidade e sua gente e, por consequência, catalisam o desenvolvimento social e econômico da região.

O Guia Alright 2024 traz 12 tendências para fortalecimento do jornalismo local, a visão de 15 grandes mentes e atores do mundo da comunicação e dezenas de dicas práticas. Pretendemos ser algumas gotas d'água que ajudem a eliminar os desertos de notícias e a desenvolver as comunidades. É possível que a forma mais rápida de se chegar lá seja fortalecendo pequenos grupos regionais, para que passem a atuar em outros municípios ou regiões contíguas. Seja como for, aqui na Alright sabemos que o amadurecimento de uma comunidade passa pela existência de veículos e jornalismo locais. E estaremos ao lado de cada publisher disposto a inovar, sobreviver e prosperar em meio a um cenário digital cheio de ameaças, mas também repleto de oportunidades.

O sucesso dos portais locais traz sucesso para o nosso negócio, mas, acima de tudo, desenvolve e engrandece o Brasil, um país continental, diverso e cheio de riquezas culturais regionais para serem preservadas e valorizadas.