Há características pessoais que se destacam no decorrer da vida. Elas são capazes de nos guiar na trajetória profissional, direcionar para os hobbies e também para os momentos de diversão. Os traços de personalidade nascem com cada indivíduo ou são desenvolvidos durante a vida? No caso da publicitária Monique Steil Sabater, head de Produção Eletrônica da agência Matriz, são as duas possibilidades. Desde pequena exercitava a criatividade em diferentes atividades, mas também a partir de muito incentivo da mãe e professora de Artes, Cleusa Glaci Steil, seja com o impulso para as aulas de dança ou para a confecção a quatro mãos da decoração de todos os aniversários.
Foi a criatividade que a levou para a faculdade de Publicidade e Propaganda na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), onde se graduou em 2006. Também foi lá que se encaminhou para a realização de performances em bloco de rua, para a confecção de fantasias, a aprender novos instrumentos e a flertar com a dança em todas as suas fases. "Acho que, em algum momento da vida, boicotei um pouco isso, mas agora tenho explorado em diferentes campos. Acredito que tudo é repertório. Quanto mais vivências temos, mais conseguimos trazer para dentro dos processos de criação de campanhas", reflete.
Em junho, a publicitária completou 19 anos na Matriz e é responsável pelas peças de meios eletrônicos, como jingles, spots de rádio, produção de internet e vídeos de grandes instituições e marcas como Grupo Zaffari, Bourbon Shopping, Banrisul, Sistema Fiergs, Governo do Estado do Rio Grande do Sul, Piá, Pilecco Nobre e Lojas Lebes, entre outras. Apaixonada pela sua ocupação, ela atua desde o briefing inicial, passando pela orçamentação e por prever o que é preciso para fazer os processos saírem do campo das ideias, até a escolha de atores, figurinos e locais para o set de filmagem.
Com vibração pelo o que faz, ao se imaginar em outra profissão, não consegue fugir muito da sua atividade: "Já me questionei algumas vezes e penso que, se não fosse na Publicidade, ainda assim seria na produção, mas no universo de videoclipes musicais. Quando olho alguns trabalhos de artistas que eu gosto, penso que deve ser muito legal, apesar de não fugir tanto da função que eu faço agora com comerciais", conta.
O caminho para o set
A paixão pelo set de filmagem não surgiu logo de início na descoberta profissional, mas foi sendo fomentada no decorrer da faculdade. A primeira experiência foi na área de produção gráfica, na agência Global, ainda como estagiária. Não era um segmento que despertava muito seu interesse, mas queria começar a experienciar o mercado. Lá, fazia orçamentos para os materiais impressos e ficava de olho no departamento localizado logo ao lado: o de produção eletrônica. "Ali, eu pude conhecer um pouco sobre as outras áreas e descobrir o que me interessava mais", recorda.
Ela, que entrou na Publicidade sem ter a dimensão de todas as possibilidades - assim como a maioria que inicia a graduação -, gostava muito do universo musical e, dessa forma, foi se aproximando dos jingles, também sob influência de Leonardo Salgado, quem conheceu durante o curso e lhe apresentou melhor a área. O encantamento pelo som, além de sua ótima memória para canções comerciais, foi percebido pelo professor da faculdade Alex Germani, que falou sobre a aluna para diferentes colegas de produtoras e ajudou a abrir as portas da Plug Produções Fonográficas.
Foi assim que Monique foi para o outro lado do balcão, atendendo a agências e clientes diretos, com atuação no processo de produção das peças de áudio e administração das pautas dos estúdios e dos músicos. Lá, iniciou como estagiária e chegou a assumir a função de coordenadora de Produção. "A Plug foi uma grande escola pra mim. Tive muito contato com clientes diretos, agências e fornecedores, momento em que conheci muitas pessoas do mercado", lembra. Lá, ficou em torno de dois anos e seguiu para a Matriz, onde segue até os dias atuais.
Na festa de 25 anos da empresa atual, reencontrou vários colegas do trabalho anterior e puderam lembrar como aquele período foi importante para a formação profissional de todos. "Todo o time ensinou e aprendeu muito. Naquele dia, comentamos que todos temos muito o que agradecer pela experiência que tivemos ali", conta. Porém, entre eles, Sepé Tiaraju de Los Santos, então sócio da Plug, falecido no início deste ano. "Ele era um produtor incrível, com quem aprendi muito, além de uma pessoa maravilhosa", lembra com carinho.
Já no período de Matriz, transitou por diferentes funções em momentos de reestruturação na empresa, mas sempre na área eletrônica. Assim como a agência passou por fases nesses 19 anos, a profissão também atravessou mudanças. "O mercado mudou muito e isso exige mais criatividade para inovar e surpreender nas campanhas."
Uma lembrança marcante desse período de transição foi a campanha de Natal criada para o Grupo Zaffari, em 2011. Na época, o Facebook atingia 35 milhões de usuários no Brasil e o vídeo, com gravações em Porto Alegre, Santo Antônio da Patrulha e São Leopoldo, além de Madri, na Espanha, conquistou o Brasil por meio da rede social. "Foi a primeira vez que percebi, de fato, esse alcance. Antes, escutávamos de amigos, familiares e colegas, que viam o comercial na TV, o quanto um trabalho havia ficado bacana, mas ali foi a virada de receber o retorno de muitas pessoas desconhecidas, de diferentes lugares. Foi muito especial e lembro de sentir muito orgulho", recorda.
Mudança também no estilo de vida
Filha de Cleusa e Ivo Sabater, e caçula de outros três irmãos paternos, Monique é uma porto-alegrense, nascida em setembro de 1983. Determinação é uma das palavras que a descreve para além dos sets de filmagem. E foi essa característica que possibilitou uma grande virada de chave na vida. Desde a infância lutando contra a balança e com o chamado "efeito sanfona", quando emagrece e engorda com rapidez, ela tinha dificuldade em manter a regularidade de exercícios.
Encontrou na corrida uma motivação. Foram 23kg a menos e o sonho de correr 21 quilômetros em uma meia maratona foi crescendo, mas ainda tinham muitos obstáculos: "Algumas vezes, me pegava chorando em meio à corrida, sonhando em cruzar a linha de chegada de uma meia maratona e achando que esse sonho estava muito distante", conta. E logo veio uma lesão no joelho e mais de um ano de tratamento para recuperação.
Neste período, recuperou os 23 kg e um pouco mais. Estava próxima aos 100kg quando optou por uma cirurgia bariátrica. "Eu tinha convicção de que queria mudar meu estilo de vida e sozinha não estava conseguindo". Após a cirurgia, com muito exercício e mudança nos hábitos alimentares, chegou ao equilíbrio da balança e o mantém até hoje, cerca de sete anos depois. "Dos 100kg fui aos 53 kg. Brinco que eu me emagreci, agora com a metade do peso", diverte-se.
A linha de chegada da meia maratona veio em 2019 e não foi só uma: foram três! A última foi durante a pandemia, em uma prova diferente, em que cada um corria sozinho, em momento e percurso escolhido por cada participante. Insegura por conta da Covid-19, fez o trajeto todo sozinha e de máscara. A prática, que esteve presente durante 10 anos da vida, hoje deu espaço para outras aprendizagens. "Acho que passou a ser mais um compromisso com metas de tempo ou de distâncias, e deixou de ser um hobbie. Apesar de não fazer parte mais da minha vida, guardo com muito carinho esse tempo pelas mudanças que me trouxe", reflete. Há cinco anos também é vegetariana por conta de uma preocupação ambiental e de saúde.
Agora, o que faz sentido para manter a qualidade de vida é a rotina de musculação e treino funcional, somada ao pole dance, praticado há cerca de dois anos, e que trouxe a dança de volta à sua vida. A publicitária fez cinco anos de ballet na infância e os estilos foram mudando nas suas diferentes fases, mas o que ela mantém sempre é a diversão por meio do movimento ritmado do corpo. Afinal, adora sair para dançar.
Eclética no gosto musical, gosta de MPB, com Elis Regina e Gal Costa em suas playlists, bem como mantém os shows de rock e o carnaval de rua na programação. Esse amor pela musicalidade passou também para a animação dos foliões em blocos de rua. Atualmente, participa da performance do 'No caminho te explico'.
Ao fazer as fantasias para as apresentações, começou a gostar de costurar, bordar e aplicar, o que tem a levado a pensar mais nas confecções personalizadas de suas roupas. Neste mesmo universo, tem aprendido a tocar xequerê, instrumento musical de percussão de origem africana, composto por uma cabaça seca envolta por uma rede de contas. "Acredito que precisamos de atividades que realizamos apenas por prazer, sem buscar a excelência e a perfeição em tudo o que fazemos", defende.
Parte dos hobbies compartilha com o noivo, com quem divide a casa, junto com os quatro gatos. Ela conheceu Cesar por meio do Tinder há cinco anos. Surpresa por ter encontrado um amor no aplicativo, Monique acredita ainda que o relacionamento com o historiador expandiu suas vivências, com uma outra perspectiva e outros círculos sociais.
Reconhecimento e muito trabalho
Monique busca sempre o melhor para cada uma de suas campanhas. Perfeccionista e comprometida com o resultado, ela conta que se cobra muito. No seu dia a dia, acredita que seja responsável e organizada e, por esses fatores, tem colhido frutos. Além de trabalhos premiados, ela já conquistou duas estrelas no Salão ARP, da Associação Riograndense de Propaganda, como Profissional de Produção do Ano. O primeiro troféu veio em 2013 e o segundo, mais de 10 anos depois, em 2024.
"Às vezes, vamos levando o ano correndo, com várias campanhas ao mesmo tempo e, na tentativa de fazer o melhor em cada uma delas, isso tudo se materializa em algo que vem para consolidar o ano e todo esse trabalho. É muito incrível saber que, de alguma forma, trouxe um destaque", ressalta.
Porém, ela não deseja parar por aí. Apesar de se sentir realizada profissionalmente, acredita que não tem jogo ganho e que, assim como em outras áreas, é preciso estar em constante evolução e aprendizado, com novos olhares, ferramentas, como as de inteligência artificial, cada vez mais presente nas funções.
Além disso, garante que está sempre em busca de desafios maiores, mesmo que não tenha desenhado tão claramente quais são eles, mas entre seus desejos pro futuro estão produções ainda maiores para clientes de peso, que acompanhem o crescimento da agência. "Certamente, quero seguir produzindo campanhas ainda mais bacanas, que me desafiem, para expandir o leque de experiências", projeta. Já no plano pessoal, a expectativa é aprender a tocar o instrumento xequerê, para colocar a música presente também nesta perspectiva. Afinal, tem no ritmo uma paixão que a tem guiado por diferentes caminhos.