Jader Rocha: Olha ele aí

Locutor multiesportivo dos canais da Rede Globo carrega o dom desde os tempos de criança

Jader Rocha - Crédito: Arquivo pessoal

Caso os personagens de 'De Volta para o Futuro', Marty McFly e Doctor Brown, embarcassem no DeLorean rumo ao final dos anos 1970, certamente encontrariam na Zona Norte de Porto Alegre um menino que pegava escondido o gravador do pai, Valter. O motivo? Registrar os jogos de botões, que ganhavam vida por meio da sua voz. De lá para cá, ele, que é obcecado pela trilogia de ficção científica, lançada entre os anos 1980 e 1990, foi o responsável por narrar diversos jogos, das mais variadas modalidades esportivas.

Todo o entusiasmo de Jader Rocha começou na infância, quando acompanhava as transmissões dos jogos de futebol. "Aquilo me despertava uma emoção diferente", aponta ele que, até tentou ser jogador de futebol. Entretanto, como não conseguiu, decidiu cursar Jornalismo. De acordo com o filho de Dione, tudo isso foi um processo natural e muito claro. 

Formado pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), começou a faculdade em 1995. Logo no início, descobriu que havia vaga para um estágio na rádio Visão, de Canoas. Ao conquistá-lo, como parte do processo de aprendizagem, fez um pouco de tudo, como separar notícias e ajudar o sonoplasta. 

Contudo, embora adorasse realizar as suas narrações, tinha muita timidez em abordar as pessoas para entrevistá-las. "Morria de vergonha e tentava esconder o crachá", recorda ele que, após 30 dias, precisou deixar o trabalho. Isso porque ainda não tinha realizado o curso de radialista - o que prontamente foi fazer.

Rádio: uma escola

No meio do processo de aprendizagem, migrou do Jornalismo Geral para a área de Esportes e começou a se destacar como narrador durante a capacitação. Depois de algumas narrações de VHS antigas e presenciais no estádio Passo D'areia, do São José de Porto Alegre, foi chamado para uma vaga na rádio ABC, do Grupo Sinos. Inclusive, dessa vez, contratado como profissional e não como estagiário.

Mais adiante participou de um processo seletivo para um curso do Grupo RBS relacionado às rádios do conglomerado midiático. O irmão mais velho de Jeisa e Felipe destacou-se tanto que ficou entre os cinco primeiros dos 600 inscritos. Após três meses de aprendizagens, como atuar na produção e melhorar a oratória, finalizou a capacitação. Entretanto, mesmo não sendo chamado de imediato para uma vaga, após ter passado por todas as emissoras radiofônicas da empresa, foi indicado para uma oportunidade na rádio Gaúcha

Auxiliar de Produção do 'Chamada Geral', com apresentação de Antônio Carlos Macedo, não acomodou-se. Bem pelo contrário. Estava de olho na área esportiva e pedindo para que lhe dessem uma chance caso surgisse uma vaga. Depois de algum tempo, Márcio Neves deixou a emissora e Jader conquistou seu lugar. 

A estreia não poderia ser mais marcante: durante um Grenal. "Estava na unidade móvel ouvindo a torcida. De lá para cá, são quase 27 anos de atuação no Esporte." Segundo ele, a emissora foi a escola da sua vida. "Eu era produtor, narrador e repórter. Fiz de tudo nesse período", conta. Porém, em relação às narrações, embora recebesse oportunidades, não eram as que imaginava. 

Direto para a telinha

Ele não sabia, mas não demorava muito para o destino conspirar a seu favor. Após dois anos, a hoje extinta TVCom começou a transmitir a segunda divisão do Campeonato Gaúcho e, com isso, Jader foi indicado para narrar as partidas. Já no início de 2000 recebeu outra oportunidade: trocar a Gaúcha de vez pela RBS TV - quando migrou definitivamente do rádio para a TV. Por lá, passou por todos os programas durante 12 anos. Aliado a isso, também começou a narrar os jogos pelo Premiere e Sportv, contudo, em solo gaúcho. 

Por fim, em 2011, mais uma porta abriu-se, só que para além das fronteiras do Estado. Desde então, deixou a RBS TV para integrar o time de narradores do Sportv e, logo, tornar-se um morador da Cidade Maravilhosa. "Era um objetivo meu dar um passo a mais na minha carreira. Entendia que aí no Sul já estava estagnado e não tinha mais para onde crescer. Eu queria narrar Copa do Mundo e Olimpíada. Sempre foi um sonho de criança."

De lá para cá, olha ele aí - como diz seu bordão -,  já se foram três Olimpíadas, três Copas do Mundo, três Eurocopas e inúmeros mundiais das mais diversas modalidades. Por isso, ao olhar para trás, o jornalista entende que a mudança foi o melhor que fez na vida. Isso porque as portas foram se abrindo, enquanto ele aproveitou todas as oportunidades.

Tradutor de emoções

Embora seja narrador de multimodalidades, Jader é chamado primordialmente para trabalhar durante jogos de futebol, vôlei e basquete. Uma das narrações que mais possui lembranças boas é a da medalha de ouro de Isaquias Queiroz, da Canoagem, em 2021. "Tem um peso maior por ser uma final olímpica. Está no meu pódio e tem um lugar especial no meu coração", diz ele, que entrou para a história ao gritar por diversas vezes "Isaquias é ouro".

Em relação ao futebol, destaca também o primeiro jogo que narrou de uma Copa do Mundo, na partida entre Japão e Costa do Marfim, em 2014. "Chorei o dia inteiro e estava emocionado me concentrando para fazer o melhor trabalho." Na competição, narrou o gol que foi considerado o mais bonito, de James Rodríguez, pela Colômbia, no Maracanã. 

Conforme Jader, sua atuação profissional não é simplesmente "chegar e narrar o jogo". Há todo um preparo em casa, quando estuda e lê as notícias. Adepto ao caderno, até hoje não abre mão de escrever, porque gosta muito do contato visual.

Para ele, o maior desafio da profissão é poder ter a capacidade de contar histórias, ao citar Galvão Bueno, "somos vendedores de emoção". 

"Lidamos muito com a paixão de quem está nos assistindo: seja para o bem, seja para o mal." Por isso, comenta que precisa estar sempre bem preparado para levar às pessoas informação, emoção e dose certa, tudo isso, com qualidade.

Sempre é dia de Rock

Longe dos microfones, adora escutar música. Como um bom fã de vinil, gosta de ficar apreciando um bom Rock no seu canto. Brinca que é jurássico, ao revelar que a banda da sua vida no Brasil é o Titãs. A paixão vem desde os 10 anos e, ano passado, ganhou um presente: reviver esses anos por meio do show de reencontro com todos os membros da banda.

Adora também Queen, inclusive entrou com 'We are the champions' na formatura, além de Led Zeppelin, Kiss e Guns N' Roses. No escritório, inclusive, tem vários funkos (bonecos) de astros do Rock, como Fred Mercury. Além disso, há também outros relacionados a filmes e esportes. 

Para além da música, o Rock também faz parte do gosto literário. Logo, tem muitos livros que narram a história de artistas e bandas do gênero. Além deles e de biografias de outras personalidades, gosta de obras que tenham investigação policial, como os de John Grisham, bem como mistério, ao exemplo de Stephen King. 

Quando o assunto diz respeito a séries, confessa que hoje em dia está mais eclético e não possui uma favorita, mas sim "a do momento". Mesmo assim, cita a espanhola 'La Casa de Papel', que viu em três dias durante a pandemia. Ainda na frente da telinha, costuma variar entre elas e partidas esportivas, além de procurar por shows no YouTube.

Nas horas vagas, sempre que pode, sai para correr, o que considera ser a sua terapia. "Não consigo ficar sem. Reconstrói-me mentalmente e revigora-me." Outro momento que acredita ser terapêutico é assar um bom churrasco, apesar de não fazer com tanta frequência desde que se mudou para o Rio.

Apaixonado pela família

Contudo, o que mais gosta mesmo de fazer quando não está trabalhando é de curtir a família e ficar em casa. "Embora meus filhos hoje sejam adultos, conversamos muito", diz ele, que é pai de Jade, 22 anos, e João Pedro, 20 anos. Casado com a fonoaudióloga Patrícia há 23 anos, o casal ainda adora passar o tempo com a cachorrinha que possuem.

Feliz da vida, conta que, enquanto a filha é estudante de Enfermagem, o filho "vai seguir os passos do papai", ao cursar Jornalismo. Com o lema de vida "desistir nunca", define-se como um cara "extremamente apaixonado pela família, pela profissão, pelo dom que papai do céu me deu e que procura fazer todos os dias o melhor possível para continuar contando histórias".

Ainda destaca que gosta muito de organização e não abre mão de uma rotina bem planejada. "Tenho sempre meu passo a passo e isso me dá mais confiança", aponta, ao completar que também é bem observador. Algo que, segundo ele, aprimorou com o tempo. Não só por conta da exigência da profissão, mas porque, de acordo com Jader, a vida dá o poder de entender e ensina como utilizar melhor. 

Perfeccionista e que detesta errar, admite que "como todo bom Taurino" é muito curioso. Aos 48 anos, para o futuro se enxerga trabalhando por muitos anos, narrando e participando de grandes coberturas. Deseja também ter capacidade mental e física para seguir a trajetória na profissão por muitos anos. 

Ao se sentir realizado, aborda que se precisasse passar por tudo novamente, faria do mesmo jeito. "Se as portinhas fossem se abrindo, mesmo com as pancadas que vamos tomando, escreveria essa trajetória do mesmo jeito", relata ele que deseja dar mais um "check" no plano de vida: narrar uma final de Copa do Mundo. E nada é impossível para quem transborda emoção: afinal, olha ele aí.

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Gerente de Conteúdo

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