Alisson Coelho: Desde sempre um contador de histórias

Coordenador dos cursos de Jornalismo e Relações Públicas da Feevale já passou por diferentes áreas, e se vê realizado na universidade

Alisson Coelho - Crédito: Amanda Barônio

Professor, pesquisador, repórter, editor, correspondente, assessor, consultor, empreendedor. Foram muitos os papéis exercidos por Alisson Coelho, que hoje atua como coordenador dos cursos de Jornalismo e Relações Públicas da Feevale. Porém, para ele, o que o define, além de uma pessoa legal e afável, é a característica de ser um contador de histórias e um grande ouvinte, seja no ambiente profissional ou na roda de amigos. 

Se hoje ensina outros tantos talentos a noticiar, criar narrativas e comunicar o público, é porque, desde a infância, sua maior habilidade estava na escrita. Na escola, arriscava-se na construção de crônicas e buscou na graduação uma forma rentável de utilizar essa aptidão. Com 37 anos, Alisson se sente realizado na docência e considera a conquista do cargo atual, alcançado a partir de votação com a participação de colegas e alunos, um dos momentos mais marcantes da sua trajetória. "Sou um dos professores mais jovens do quadro e saber que meus colegas, alguns que me deram aula, olharam pra mim, pensaram que eu merecia e acreditaram que eu seria um bom coordenador, é incrível", define. 

Filho do meio, com nove anos de diferença de cada uma das suas duas irmãs, nunca foi chamado pelo primeiro nome - Diônatas - nem mesmo pelos seus pais Odete Poloniato Martins Coelho e Jônatas Remi Coelho. Natural de Novo Hamburgo, viu por muitos anos seus pais trabalharem juntos, ele como sapateiro e ela como costureira de sapatos. 

Por coincidência, recentemente deixou aflorar também o lado empreendedor com a sua companheira, a publicitária Letícia Cassel. Juntos, lançaram o atelier criativo Deixa a Vírgula me Levar, que busca oferecer para o mercado ideias diferenciadas, que contribuam com a construção da imagem de marcas e lideranças. 

Já trabalhando nos seus primeiros projetos, o casal tenta realizar as atividades com leveza, além de buscarem a complementação entre as duas formações e personalidades. Afinal, vê na parceira e sócia uma fonte de inspiração, assim como tantos outros profissionais que têm como referência. "Com a Deixa, vi um mundo novo que nem sabia que existia, com a possibilidade de criar produtos e desenvolver ideias inovadoras. Estou fazendo coisas diferentes e experimentando muito", conta, com entusiasmo.

Conselho às avessas

Em suas primeiras semanas como professor, na sala dos docentes, recebeu conselhos de um colega veterano: não seja amigo dos alunos nas redes sociais - se possível, nem tenha perfil em redes sociais-, não compartilhe seu telefone e, se sair à noite, vá a outra cidade para não se encontrar com os estudantes. "Eu sou o extremo oposto. Todos os alunos têm meu WhatsApp e antes mesmo de mandarem um e-mail para coordenação, me mandam mensagem por ali. Tenho essa proximidade que eu acho legal", diverte-se ao recordar, afinal, nunca gostou de excessos de formalidade.

Aliás, conhecer novos bares e restaurantes, mesmo em sua região, estão entre as atividades preferidas de Alisson nas horas vagas, o que geralmente ocorre apenas aos finais de semana, visto que nos dias úteis mantém seus compromissos na universidade, com aulas à noite e atividades de coordenação pela manhã e tarde. 

Se na infância jogava bola até tarde na rua de casa, em Novo Hamburgo, ou, nas férias em Caiçara, cidade natal de seus pais, onde também costumava nadar com os primos em açude, hoje mantém a paixão pelo futebol apenas acompanhando seu time do coração, o Internacional. Como exercício físico, além da academia, escolheu o beach tennis, em que confessa que resulta em uma grande rivalidade entre o casal. 

Dinamismo e inquietude

Primeiro da família a concluir o Ensino Superior, fez faculdade na expectativa de trabalhar em veículos tradicionais de comunicação, especialmente, nos impressos. Nos seus quatro anos iniciais de profissão, passou pelas redações do Diário da Encosta da Serra, do Terra, da Rádio ABC, do Correio do Povo e da Zero Hora, com funções de repórter, correspondente e editor. Se descreve como ansioso e impaciente, mas foi essa inquietude sobre alguns temas políticos e sociais que o aproximaram da pesquisa. Lembra de buscar explicações para alguns posicionamentos da mídia em artigos científicos e acredita até hoje que a academia tem o poder de gerar reflexões e mudanças no mercado. 

Algo que Alisson fez durante esses 15 anos enquanto jornalista foi transitar por diferentes áreas. Ele buscou especializações em Jornalismo Esportivo e Político, mas também na área digital. Já seus estudos de mestrado - que lhe renderam o prêmio Prêmio Adelmo Genro Filho de Pesquisa em Jornalismo - e doutorado, realizados na Unisinos, buscaram entender a influência dos leitores nos veículos de comunicação, enquanto o pós-doutorado, feito na Universidade de Brasília (UnB), levanta a temática da violência contra seus colegas de profissão, cujo assunto deseja dar continuidade em futuros estudos. 

Do dia a dia da reportagem, que lhe deixa saudade, ele passou para a academia e, em razão da bolsa científica, saiu dos veículos para dedicar-se à tese. Dessa forma, se conectou, por meio de trabalhos freelancer, com assessoria de imprensa. Foi convidado para coordenar a comunicação da Comusa, prestadora de serviço de água e esgoto de Novo Hamburgo. Lá, precisou pensar em comunicação 360º, ampliando seus conhecimentos para as áreas de Publicidade e Relações Públicas. A experiência abriu portas para, posteriormente, ser consultor na Critério, onde focou, principalmente, na área de imagem e reputação. 

E por flertar com tantas áreas, além de considerar ser calmo e ter uma visão sistêmica das situações, sente-se confortável em ministrar disciplinas para todos os cursos da comunicação e em estar à frente de RP e Jornal, função que exercerá, ao menos, até o final de 2025, quando ocorre nova eleição para o cargo. Ainda na Feevale, ficou durante quatro anos como coordenador da Agência Experimental de Comunicação.

Despertar das potencialidades 

Apesar de grande parte dos profissionais buscarem o mestrado para iniciar a trajetória na docência, Alisson acredita que os programas de Pós-Graduação o ensinaram mais sobre como ser um pesquisador. No entanto, foi se descobrindo professor nos estágios docentes. Primeiro no mestrado, onde precisaria dar apenas três aulas, mas recebeu o apoio do colega Felipe Boff para participar do semestre inteiro e, ali, começou a se apaixonar pela função. "A experiência com o Felipe me encantou muito, ver aquelas turmas chegando com sangue no olho e muita vontade de ser jornalista. Era muito bonito de ver", relembra. Após, no doutorado, teve outra oportunidade, mesmo que não obrigatória, de dividir a disciplina de Teorias do Jornalismo com a sua orientadora, Beatriz Marocco. 

Quando, de fato, foi contratado na faculdade em que fez graduação e permanece até hoje, lembra de preparar com empenho as aulas da primeira semana, imaginando a duração de um turno inteiro, mas às 20h30 já tinha concluído o conteúdo. "Eu falava muito rápido, não tinha técnica, não provocava debates com os alunos. Foi um período que aprendi na marra para conquistar eles no decorrer do semestre". 

Hoje, busca incessantemente encontrar formas de atrair a atenção da turma. "No turno da noite, a maioria já chega cansado do dia de trabalho, muitos pegam a estrada para ir à aula, há uma disputa com a tecnologia e milhares de notificações no celular. O conteúdo e, principalmente, a conexão precisam ser diferentes", acredita. 

Aprender e ensinar

Para ele, o maior desafio de um professor é equalizar as diferentes histórias que estão na mesma sala de aula. "Respeitar cada uma dessas trajetórias e suas convicções, saber utilizar a individualidade para que eles se prendam ao conteúdo e utilizem suas potencialidades para serem protagonistas do seu aprendizado é meu grande desafio. Gosto de estar perto deles, saber sobre eles e aprender com cada um", garante. 

Enquanto Alisson tenta despertar o melhor em cada um dos seus alunos, relembra profissionais que foram importantes na sua carreira, dos quais tenta absorver características que acredita serem grandiosas. Seja na amizade com Marcos Santuário, quem o ajudou no TCC, na forma como sua orientadora de mestrado, Christa Berger, consegue ser humana, acolhedora e competente, assim como o pesquisador José Luiz Braga, de Brasília, com quem mantém proximidade até hoje. Na área de assessoria de imprensa, José Eduardo De Zotti foi uma grande referência. Com Soraia Hanna aprendeu muito sobre reputação, mas em Cezar Freitas vê um espelho de gestor que deseja seguir. 

Com uma história feita de tantas conexões, acredita estar no lugar certo e almeja crescer exatamente nos papéis atuais. Para o futuro, deseja consolidar a sua empresa em um lugar seleto no setor, com projetos significativos e diferentes. Na área acadêmica, sonha com seu fortalecimento na pesquisa a partir de estudos de grande relevância com parcerias internacionais. "Acredito que tenho muito ainda a contribuir com a minha profissão a partir de reflexões", sublinha. Por outro lado, como consumidor assíduo de literatura, cinema e música, quer se aventurar em escrever ficção, uma ideia antiga que ainda não conseguiu colocar em prática em meio a correria. "Em uns dez anos, espero estar com as coisas mais encaminhadas para escrever com tranquilidade e prazer", projeta.

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