Economia e imprensa: comunicadores discutem práticas do Jornalismo Econômico

Encontro, promovido pela Nova Coonline, debateu os desafios e caminhos para uma imprensa mais plural, crítica e acessível à sociedade

Paulo Kupfer deu suas visões sobre a transformação do Jornalismo especializado, em atenção especial ao econômico - sua área - Crédito: Reprodução

Em mais um encontro virtual promovido pela Nova Coonline, publicado no YouTube, o convidado da vez foi o jornalista e colunista José Paulo Kupfer, nome relevante no Jornalismo Econômico brasileiro. O bate-papo, conduzido pelo jornalista José Antonio Vieira da Cunha, via Zoom, contou com a participação dos seguintes profissionais de imprensa: Eugênio Bortolon, Ivanir Bortot, José Cruz, Márcio Pinheiro e Marina Wodtke. A conversa girou em torno dos desafios do Jornalismo especializado, da hegemonia do pensamento liberal na imprensa e das possibilidades de ampliar o olhar sobre as questões estruturais do país, incorporando novas vozes e abordagens analíticas.

O convidado iniciou a conversa compartilhando um pouco da sua trajetória e aspectos marcantes de sua carreira. Em seu currículo, incluem-se passagens pelos respectivos veículos: O Estado de S. Paulo, Gazeta Mercantil, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e O Globo. Além disso, também tem colaborações em UOL e Valor Econômico. Com mais de décadas de experiência, o profissional destacou como o Jornalismo Econômico brasileiro foi moldado ao longo do tempo e de que forma as redações incorporaram, ou até deixaram de incorporar, diferentes visões de mundo na cobertura da área.

Economia nas entrelinhas da cobertura 

Um dos pontos centrais do bate-papo foi a reflexão sobre o papel da imprensa na interpretação dos acontecimentos. Kupfer criticou o predomínio de uma abordagem liberal nos grandes jornais, que tende a apresentar determinadas soluções, como cortes de gastos públicos ou privatizações, como inevitáveis. Ele apontou que esse enquadramento reduz o espaço para o contraditório e enfraquece a pluralidade de ideias que deveriam estar presentes na cobertura jornalística.

Ainda de acordo com Kupfer, "a economia não é uma ciência exata, mas um campo permeado por disputas ideológicas". Por isso, em sua visão, "o jornalista precisa estar atento às premissas que sustentam os discursos que circulam no debate público." "A imprensa, muitas vezes, compra a visão de que há uma única maneira correta de lidar com as finanças públicas, o que é um equívoco. Existem pensamentos diferentes e é função do Jornalismo apresentar essas possibilidades à sociedade", defendeu.

Ampliar repertório, diversificar fontes

A necessidade de ampliar o repertório dos profissionais que cobrem pautas econômicas foi bem destacada pelo entrevistado. Kupfer enfatizou a importância de uma cobertura que vá além das vozes do mercado financeiro, tradicionalmente priorizadas pelas redações jornalísticas. Para ele, "é urgente incluir fontes que tragam outras experiências e visões, como acadêmicos, líderes de movimentos sociais, empresários e trabalhadores, a fim de enriquecer o debate e torná-lo mais representativo da nossa realidade."

Essa diversificação de fontes, segundo o jornalista, também contribui para aproximar o público dos assuntos econômicos, muitas vezes percebidos como distantes ou inacessíveis. "Quando o Jornalismo se limita a uma linguagem técnica e a fontes de um mesmo espectro ideológico, ele exclui parte do público e reforça desigualdades. Precisamos trazer outras vozes, outras narrativas, para que a economia seja compreendida como algo que afeta a vida de todos", pontuou Kupfer.

Papel da formação e crítica na prática jornalística

Kupfer também destacou a relevância de uma formação sólida e crítica para os comunicadores que atuam em áreas especializadas. Para ele, "não basta dominar conceitos básicos ou reproduzir relatórios técnicos: é fundamental entender os fundamentos teóricos e as disputas políticas por trás das decisões econômicas". Em sua visão, tal atitude permite ao jornalista questionar narrativas dominantes e oferecer ao público uma análise mais profunda e contextualizada.

Ele advogou a ideia que o Jornalismo, em especial ao especializado, não pode abrir mão de sua função de mediação crítica. "A objetividade é uma meta, mas não pode ser confundida com passividade. O jornalista precisa fazer escolhas conscientes sobre o que cobre, como cobre e a quem dá voz. Isso exige preparo, mas também pulso firme para tensionar consensos e abrir espaço para o contraditório", disse Kupfer.

O encontro, de maneira geral, não apenas revisitou momentos marcantes da trajetória de José Paulo Kupfer, mas também trouxe à tona reflexões essenciais sobre os rumos do Jornalismo Econômico no Brasil. Ao defender uma cobertura mais plural, crítica e conectada com a realidade, Kupfer reforçou a necessidade de um Jornalismo que vá além dos números e traduza, com responsabilidade e comprometimento, os impactos das decisões econômicas na vida cotidiana. 

Ao final da conversa, evidenciou-se que discutir a cobertura da Economia é também questionar o papel do Jornalismo na sociedade. Além disso, repensar essa abordagem é essencial para fortalecer a informação plural e a democracia.

Confira o papo completo: 

 

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