Cinco perguntas para Gabriel Jacobsen

Jornalista, que tem como especialidade a Política, trabalha com foco no interesse público

06/11/2025 11:30
Cinco perguntas para Gabriel Jacobsen /Crédito: Arquivo pessoal
  1. Quem é você, de onde vem e o que faz?

Minha história começa no Morro Santa Tereza, em Porto Alegre, onde formei as minhas primeiras memórias e de onde partia, com meus pais, para explorar o bairro Menino Deus, a escolinha Pato, o Parque Marinha do Brasil e o Gigante da Beira-Rio. Outra parte importante dos meus primeiros passos foi dada, anos depois, nas areias do litoral de Santa Catarina, onde morei parte da infância e da adolescência ? experiência que me permitiu uma rotina mais livre e de relação com a natureza.

Venho também do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), que me recebeu aos 18 anos, cheio de sonhos, e me apresentou à complexidade dessa apaixonante e desafiadora profissão que marca a minha vida desde então. Anos depois, voltei à Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico), desta vez para fazer meu mestrado em Comunicação Social e explorar outras formas de conhecimento. A minha trajetória profissional somada a esse mergulho acadêmico me levaram a uma rica experiência como professor de Jornalismo, entre 2020 e 2022.

De onde venho? Em boa parte, das trocas e aprendizados que tive com grandes profissionais ao longo destes anos de redação. Encontrei muita gente boa pelo caminho que me ensinou Jornalismo e que valorizou as minhas habilidades e os meus conhecimentos. Acredito no Jornalismo como uma atividade coletiva ? tenho certeza que isso sempre me ajudou.

Venho do Rio Grande do Sul, uma terra que valoriza o rádio e o Radiojornalismo como nenhuma outra no Brasil. Sou apaixonado pela fala, pelo relato, pela argumentação, pelo que a oralidade tem de humano e intangível. Pelo som, que conecta a minha profissão à minha arte favorita, a música ? o meu último recurso para entender tudo que não cabe em palavras.

Meu nome é Gabriel e eu sou jornalista. Primordialmente, repórter ? ou seja, carrego o valor da apuração também quando apresento programas, quando atuo como chefe de Reportagem ou como comentarista, para citar algumas das atividades que exerci ao longo da carreira. Trabalho na rádio Gaúcha, por si só uma escola de Radiojornalismo, e também na Zero Hora, em GZH e, de vez em quando, na RBS TV. 

Cubro eventos e pautas de editorias diversas, de Geral a Esporte e Polícia, mas a minha especialidade é a Política, a cobertura de poder. Por meio do Jornalismo e sem jamais esquecer de sua função social, busco colaborar com o aperfeiçoamento da nossa democracia, com a fiscalização dos agentes públicos e das instituições, e com a oxigenação dos debates na esfera pública.

  1. O que mais o moveu a escolher a carreira na Comunicação?

Sinto prazer no diálogo, na descoberta e na argumentação. Creio que foi este ímpeto que me conduziu e me manteve ao longo destes anos na Comunicação ? esse caminho privilegiado para acessar e produzir conhecimento. Duas pessoas abordando um mesmo conteúdo, relatando um mesmo acontecimento, podem produzir resultados e efeitos radicalmente diferentes conforme as suas habilidades de imaginação e comunicação. Isso é fascinante, não?

Agora, o Jornalismo representa um campo próprio, de factualidade, dentro disso tudo, um campo fabuloso para quem gosta de mergulhar nos acontecimentos que marcam cada dia desta vida e para quem sente curiosidade pelas dinâmicas e relações de poder da sociedade. Eu considero esse desafio todo muito interessante ? ou, pegando emprestadas as palavras de Belchior, a minha alucinação é suportar o dia a dia e o meu delírio é a experiência com coisas reais.

  1. Em setembro, você recebeu um reconhecimento no 'II Prêmio Nacional de Jornalismo do Poder Judiciário', que se soma a conquistas em outras premiações. O que essas premiações significam para você?

Essa premiação foi muito diferente das demais que participei. O 'II Prêmio Nacional de Jornalismo do Poder Judiciário' foi entregue em 9 de setembro de 2025, no Salão Branco do Supremo Tribunal Federal (STF), enquanto, a uns 100 metros dali, em outro prédio da mesma Corte, ocorria o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro ? acontecimento que eu estava cobrindo e motivo pelo qual eu estava em Brasília. Ou seja, a prioridade naquele momento não era o prêmio que estava sendo entregue, mas o julgamento que ocorria ali ao lado.

Assim, a cerimônia de premiação representou menos um momento de festividade e mais uma possibilidade de apuração jornalística, de acesso a autoridades, de fazer reportagem, de conversar com o então presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso. E foi exatamente assim que eu aproveitei aquela noite, apurando, relatando no ar e escrevendo matéria. 

Em relação a prêmios em geral, fico extremamente honrado com os que recebi e espero produzir outros conteúdos jornalísticos merecedores de reconhecimento. É uma honra imensa. Mas não é isso que me move. O que me mobiliza é o interesse público. Algumas das reportagens e coberturas mais difíceis e relevantes que fiz não disputaram prêmio algum ? e isso acontece diariamente com incontáveis jornalistas que realizam trabalhos fundamentais, em todo lado. 

Em outras palavras: às vezes, além de produzir um trabalho com dedicação e relevância, o jornalista também acaba premiado. Mas não podemos perder de vista a ordem dos fatores e o que efetivamente interessa na profissão.

  1. Você tem uma trajetória de quase oito anos no Grupo RBS, além de passagens pela Band, rádio Guaíba e Rede Pampa. Quais foram os momentos mais marcantes do seu trabalho como jornalista?

As grandes coberturas (por vezes dolorosas coberturas) nos colocam à prova e nos fazem explorar novas habilidades pessoais e jornalísticas. Entre as grandes coberturas das quais participei estão a tragédia da Kiss e as Jornadas de Junho, ambas em 2013, a enchente de 2024 e o julgamento do ex-presidente Bolsonaro, neste ano.

A lista das grandes coberturas tem ainda a morte do ex-candidato Eduardo Campos, em 2014, a pandemia, a eleição presidencial de 2022 e a missão do governo do Rio Grande do Sul nos Países Baixos, em 2025. Foram momentos marcantes e agradeço a muitas pessoas pelas oportunidades e pelas parcerias durante essas empreitadas.

  1. Quais são os seus planos para daqui a cinco anos?

Espero, em cinco anos, continuar produzindo conhecimento ao lado de grandes profissionais e, por que não, com novas oportunidades. Sinto que posso colaborar de formas diversas no Jornalismo e na Comunicação e esse ambiente multimídia no qual estou inserido hoje favorece novas experiências ? muitas das quais ainda serão inventadas por nós, uma vez que esse ambiente está em franca transformação.