O 52º Festival de Cinema de Gramado tem mais de 300 profissionais de imprensa credenciados. Entre eles, Carlos Eduardo Lourenço Jorge, que trabalha na Folha de Londrina, do Paraná. O que diferencia o jornalista dos demais colegas é que ele cobre o evento cultural desde a sua primeira edição. Em entrevista ao Coletiva.net, comemorou: "Acho que sou um privilegiado. Porque estar em Gramado por cinco décadas seguidas me tornou testemunha presencial de parte importante da história do cinema brasileiro".

Formado em Cinema pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) - e bacharel em Direito pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) -, ele acompanhou a evolução do festival, com suas aflições e conquistas, até afirmar "o status de arte essencial na pavimentação da cultura do Brasil". Para Carlos Eduardo, poder registrar isso como jornalista não é outra coisa se não um privilégio. 

Na visão dele, não houve dificuldade para que as pessoas que estiveram à frente do festival não soubessem encontrar saídas satisfatórias. "O brilho da improvisação, quando necessária, também foi fator relevante. E uma pitada de sorte, aqui e ali, fez a costura providencial, por que não?"

Momentos marcantes

Ao longo das mais de cinco décadas de acompanhamento do evento, Carlos Eduardo acumula uma série de lembranças e emoções. Por muitos anos, foi mediador de sessões de debates de curtas e longas nacionais e estrangeiros (latinos). E desses momentos, cita com carinho a condução de entrevistas coletivas com Michelangelo Antonioni, Faye Dunnaway e do garoto italiano Totó, de 'Cinema Paradiso'.

Quando o olhar é local, recorda de  grandes diretores brasileiros da segunda metade do século 20, como Walter Hugo Kouri. E fez questão de destacar: "Não posso (e nem devo) esquecer os anos de chumbo da ditadura militar no Brasil (entre 1970 e 1980), cuja sombra infame da censura se debruçou sobre o festival, mas que encontrou firme e forte resistência dos dirigentes do evento em vários momentos de ansiedade e suspense".

Aos que chegam

Carlos Eduardo é inspiração para muitos jornalistas que começaram sua trajetória na cobertura do Festival de Cinema de Gramado. E, para esses profissionais, ele sugeriu: "Que não ir com tanta sede ao pote?". De acordo com ele, antes de escrever de maneira afoita, é fundamental passar em revista as informações coletadas, as fontes consultadas e os fatos que realmente devem interessar ao leitor. 

Ainda conforme seus ensinamentos, persistência é algo não menos importante. "Tente mais e pense criativamente. A imaginação é uma parte subestimada, mas indispensável ao Jornalismo - especializado ou não." O experiente profissional entende que Jornalismo de qualidade não é apenas sobre reportagem, mas também sobre interpretar os dados, e dar a eles um rosto humano, um personagem. Não ter preconceitos e cultivar diferentes perspectivas são posturas essenciais para quem começa, na opinião dele. "E, por favor, se quiser mesmo se especializar nesta área, que tal gostar de fato, amar cinema, ver muitos e muitos filmes (originais com legendas, por favor), ler textos especializados e confiáveis. É mais ou menos por aí."

A equipe de Coletiva.net acompanha o 52º Festival de Cinema de Gramado, realizado de 09 a 19 de agosto, na Serra Gaúcha. Nessa edição, o apoio é da Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), que enviou quatro estudantes de Jornalismo, Produção Audiovisual e Publicidade para reforçar a cobertura. O público pode conferir matérias e entrevistas exclusivas sobre o evento no portal, repercutidas nas redes sociais - Facebook e Instagram -, além de drops em Coletiva.rádio. Além disso, haverá conteúdos produzidos especialmente para a Coletiva.tv.