Vida de Instagram

Por Luan Pires

Sara sentia os cabelos inicialmente amarrados voarem com a força do vento. Era como se fosse uma flecha a ultrapassar aquela barreira invisível. Às vezes, fechava os olhos e imaginava-se voando em algum lugar longe dali. Abria para retomar a direção da bicicleta e logo fechava novamente sem se importar com as pessoas que passavam como borrões coloridos.

Naquele dia, acordou com o coração apertado. Era seu aniversário e ao final do dia iria jantar com alguns amigos. Completava trinta anos com a sensação de que ainda não tinha saído da adolescência. Quando era pequena, dizia que queria se casar aos 25, engravidar de um casal de gêmeos aos trinta e tornar-se milionária aos quarenta. Se ela considerasse seu cachorrinho como filho, as amigas como um relacionamento e estabilidade no emprego como riqueza, talvez ela tivesse atingido as metas. Ela riu de si mesma enquanto fechava os olhos, mais uma vez.

A ansiedade daquele dia se misturava com grande sentimento de culpa. Olhava as redes sociais das outras pessoas, até mais jovens que ela e pensava que talvez tivesse se esforçado menos do que deveria. Ao invés da festa, poderia ter estudado mais ou feito aquele curso. Ao invés do fast food, poderia ter comido uma saladinha, ao invés do sofá, quem se dedicar aos sábados a um projeto social? Quando abriu os olhos viu uma antiga colega passar por ela a pé. Abanou com a cabeça e invejou o corpo malhado e a carreira de sucesso que ela estampava nas redes sociais. Pedalou mais rápido até que a dor nas pernas substituísse aqueles pensamentos. 

Se afastando dela estava Francine que tinha acabado de abanar para Sara, sua ex-colega de escola. Francine a invejava. Sara morava sozinha, tinha uma carreira estável e muitos amigos. Enquanto ela, morava com os pais, vivia na luta para manter o peso ideal, passando fome e sua loja de roupas não estava no melhor momento. Sem contar que essa rotina acabou lhe afastando dos seus amigos. Se sentia cada vez mais sozinha. Resolveu correr para parar de se sentir a pior pessoa do mundo.

Cada uma seguiu achando que a Vida da outra era melhor que a sua. Como a própria Vida, gostaria de ressaltar o que todos vocês sabem, mas nunca é demais frisar: todo humano é mais forte do que pensa e mais frágil do que quer aparentar.

Com Amor, Vida.

 

Autor
Luan Nascimento Pires é jornalista e pós-graduado em Comunicação Digital. Tem especialização em diversidade e inclusão, escrita criativa e antropologia digital, bem como em estratégia, estudos geracionais e comportamentos do consumidor. Trabalha com planejamento estratégico e pesquisa em Publicidade e Endomarketing, atuando com marcas como Unimed, Sicredi, Corsan, Coca-Cola, Auxiliadora Predial, Deezer, Feira do Livro, Museu do Festival de Cinema em Gramado, entre outras. Articulista e responsável pelo espaço de diversidade e inclusão na Coletiva.net, com projetos de grupos inclusivos em agências e ações afirmativas no mercado de Comunicação. E-mail para contato: [email protected]

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