Viagens, viajantes e gastronomia

Por Flávio Dultra

Tenho um certo fascínio por estes programas de tv sobre viagens e turismo. Existem até canais com uma grade totalmente dedicada ao tema, entre eles o Modo Viagem na tv por assinatura. O que me chama a atenção nessas atrações é que invariavelmente dedicam boa parte do tempo da produção à culinária do local visitado. Até parece que o programa é feito por esfomeados. É só conferir, por exemplo, o "Ruas pelo Mundo", do viajante profissional Rodrigo Ruas, que também aproveita as incursões, enquanto degusta uma iguaria nativa qualquer, para gravar em paralelo outro programa, "O Mundo é uma Passagem", com Anne Bueno, a mulher dele. E ela também aprecia uma boa comilança.

O Globo Repórter, que apelidei de Globo CVC Repórter devido a quantidade de viagens empreendidas pela inesquecível Glória Maria, igualmente reservava sempre um segmento do programa a uma mesa farta servida à repórter, seja numa tenda de beduínos no deserto, seja numa cidade de nome e culinária estranhos, lá no círculo ártico. Glória fazia caras e bocas diante do rango oferecido e, invariavelmente, acrescentava um "que delicia!".

Em certos casos, a gastronomia se sobrepunha às obrigatórias visitas à locais históricos, às paisagens tidas como de tirar o fôlego, ou às manifestações culturais dos povos visitados. De repente, uma indescritível aurora boreal é sucedida pela degustação de um prato com gosmentos moluscos.

A minha fascinação e eventuais implicâncias por tais programas talvez se deva ao fato de que sou um viajante muito ocasional - fiz minha primeira viagem à Europa só aos 60 anos - e sem qualquer propensão a experimentos culinários. Quase tive engulhos quando assisti num extinto Manhatan Connection, ao apresentador Pedro Andrade descrever os tipos de comidas exóticas que tinha provado - e gostado! ,- nas viagens para seu programa solo, "Pedro Pelo Mundo".

As viagens televisivas servem para mexer com a imaginação e as papilas gustativas de quem não pode sair mundo a fora, e aí me incluo na categoria Invejoso Assumido. Como já revelei, sou um viajante de modestos roteiros e absolutamente conservador à mesa, por isso já defini minhas preferências culinárias fora de casa: no Brasil, a inigualável à la minuta e, no exterior, a sempre presente comida italiana, pizzas e massas. Não tem erro, nem programa de viagem na TV que mude meu cardápio.

 

Autor
Flávio Dutra, porto-alegrense desde 1950, é formado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), com especialização em Jornalismo Empresarial e Comunicação Digital. Em mais de 40 anos de carreira, atuou nos principais jornais e veículos eletrônicos do Rio Grande do Sul e em campanhas políticas. Coordenou coberturas jornalísticas nacionais e internacionais, especialmente na área esportiva, da qual participou por mais de 25 anos. Presidiu a Fundação Cultural Piratini (TVE e FM Cultura), foi secretário de Comunicação do Governo do Estado e da Prefeitura de Porto Alegre, superintendente de Comunicação e Cultura da Assembleia Legislativa do RS e assessor no Senado. Autor dos livros 'Crônicas da Mesa ao Lado', 'A Maldição de Eros e outras histórias', 'Quando eu Fiz 69' e 'Agora Já Posso Revelar', integrou a coletânea 'DezMiolados' e 'Todos Por Um' e foi coautor com Indaiá Dillenburg de 'Dueto - a dois é sempre melhor', de 'Confraria 1523 - uma história de parceria e bom humor' e de 'G.E.Tupi - sonhos de guri e outras histórias de Petrópolis'. E-mail para contato: [email protected]

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