Reinvenção do rádio? Há controvérsias

Por Flávio Dutra

01/07/2024 13:52 / Atualizado em 01/07/2024 13:51
Reinvenção do rádio? Há controvérsias

Colunista com espaço regular fica entusiasmado quando os leitores interagem diante de um texto de autoria dele. Não é só vaidade. Na maioria dos casos é porque os comentários, prós e contras, vão dar subsídios para uma nova coluna. Puro pragmatismo.

Paulo Sant'Anna que assinava a coluna diária da última página de Zero Hora não escondia sua satisfação quando o conteúdo de uma crônica era contestado.  Polêmico como ele só, isso acontecia com muita frequência. E a coluna do dia seguinte estava garantida, com a publicação integral do contraditório. Para quem tem espaços diários na mídia, isso é uma benção, mas mesmo para este que vos fala, com uma solitária coluna semanal  aqui em coletiva.net, opiniões contrárias são bem-vindas pela mesma razão.

O nariz-de-cera* acima se justifica para dizer que a coluna da semana passada ?A reinvenção do rádio? preencheu os requisitos necessários para ganhar continuidade. Houve comentários a favor e contra à defesa que fiz sobre as mudanças pelas quais passa o rádio, que considero a mídia com mais capacidade de se reinventar,  seja pela migração para o digital,  seja por agregar imagens ao áudio. Eis aí um forte ponto de discórdia, expresso pelo publicitário Sérgio Cunha, que conheci como diretor comercial da então RBS Rádios. Hoje atuando em São Paulo, Cunha entende que valorizar as transmissões radiofônicas com imagem ?depositando o tráfego da audiência no computador é de uma miopia estrondosa, ou tu achas que todo o mundo fica na telinha acompanhando o que o rádio faz. Ele agrega, mas o áudio ainda é soberano?.  E completa sua indignação: 

- É que os comunicadores gostam do novo modelo e ?ofendem? a audiência ao não saber administrar o valor do meio, dizendo ?agora a imagem mostra que...?. E quem está só no rádio, lambe os dedos?

Como o que interessa é o contraditório para a retomada do tema reinvenção do rádio, segue mais uma posição nessa linha. No caso, de outro indignado, o que para mim que tenho convivido com ele mais frequentemente não chega a ser novidade. Trata-se do meu parceiro literário, facebuquiano e vizinho de coluna, o publicitário e escritor Marino Boeira.  Qual um Dom Quixote redivivo, o bom Marino investe, quase enfurecido, contra o rádio via web. ?Quer dizer que não dá mais para torcer pelo Inter e secar o Grêmio, na Guaíba e Gaúcha, ouvindo o Ranzolin, o Pedro Pereira  ou o Mendes Ribeiro? E estes tais podcasts, precisava ter nome inglês??  Assumindo de vez sua porção vintage, ele relembra tempos sombrios. 

- Aquele radinho de pilha, em que o presidente secava o Inter e torcia pelo Grêmio, morreu com a ditadura do Medici? Li no jornal (jornal ainda tem, Flávio?) que não é permitido mais entrar com radinho nos estádios porque pode virar uma arma contra juiz ladrão. 

Outro polemista das minhas relações, o renomado repórter político Gustavo Motta contesta e última afirmativa do Marino e faz uma revelação própria de um ativo torcedor de futebol:

- Que ninguém me leia, nos estádios prefiro o velho e bom radinho de pilha. É mais barato jogar no campo em sinal de protesto do que um celular.

(O arremesso do Gustavo por certo será em jogo do nosso cambaleante Grêmio.)

Pronto, misturaram futebol, preferência clubística, política e outros quetais e temos aí mais assuntos para novas polêmicas. Haja colunas.

*Nariz-de-cera, jargão jornalístico para introdução vaga, sem necessidade, de uma matéria. Famosa ?encheção de linguiça?.