Rafael Guimaraens para Patrono da Feira do Livro

Por Márcia Martins

Nunca antes na história de 70 edições da Feira do Livro de Porto Alegre um nome mereceu, com tamanha urgência, ser escolhido para Patrono do evento literário que ocupa lugar de destaque no calendário cultural da capital gaúcha e do País. Trata-se do jornalista, escritor e um dos sócios da Editora Libretos, Carlos Rafael Guimaraens Filho, 68 anos, que acumula no seu extenso currículo a autoria de mais de 20 livros que contam histórias de uma Porto Alegre de um jeito todo especial e envolvente, que nem todos conheceram, tragédias que ocorreram nas ruas da cidade e outros temas cativantes.

Rafael Guimaraens, ou simplesmente Rafinha, como é conhecido pelos amigos do meio da comunicação, tem entre suas obras um título que esteve em quase todas as rodas de conversas e motivou inúmeras entrevistas a partir do final de abril deste ano. "A Enchente de 41" (2010), ganhador do Prêmio da Associação Gaúcha de Escritores como melhor livro de não-ficção, narra a catástrofe que se abateu sobre Porto Alegre em abril e maio de 1941, quando a cidade foi invadida pela água das chuvas durante 22 dias, desabrigou mais de 70 mil pessoas e transformou a capital gaúcha.

Quando mergulhou no intenso trabalho de pesquisa para obter as informações necessárias à escrita do livro "A Enchente de 41", Rafael Guimaraens jamais imaginou que viveria algo semelhante ao que iria escrever. Nem nos seus piores pesadelos. Até que Porto Alegre foi vítima de uma nova enchente, com danos bem superiores aquela de 1941, e o escritor virou personagem de sua obra, ainda que em períodos distintos. A enchente de maio de 2024 alagou a moradia de Rafinha no bairro Menino Deus, e ele teve que buscar abrigo em casa de familiares e amigos.

E o depósito da editora Libretos, situado na rua Voluntários da Pátria, que foi profundamente atingida pela enchente deste ano, com cerca de 10 mil livros, teve perdas totais. Por uma artimanha do destino, os originais das obras da Libretos foram preservados em meio digital, o que permitiu a reimpressão do livro "A Enchente de 41", com vendas já esgotadas e uma lista de novos pedidos. Posso estar adivinhando o futuro! Quem sabe acerto os números da Mega Sena. Mas digo, com quase 99% de certeza, que a obra citada acima será uma das mais vendidas na 70° edição da Feira do Livro.

Não seria muito justo, não só pela sua inegável contribuição literária, pelo enorme prestígio junto aos seus leitores e leitoras, pela reedição de suas obras, que este escritor, roteirista, jornalista, palestrante e conferencista fosse honrado como Patrono da 70° Feira do Livro de Porto Alegre? O autor da obra que promete ser o best-seller da feira (aqui é chutômetro da Marcinha Sensitiva) não merece ser escolhido como Patrono? Imaginem a faceirice (ele é uma pessoa extremamente tímida e gentil) do Rafinha passeando entre as bancas na Praça da Alfândega - que também foi alagada nas duas enchentes -, pela primeira vez não só como escritor e proprietário de editora!

Quase me esqueço de contar. Rafael Guimaraens e sua sócia Clô Barcellos vivem um período de trabalho ininterrupto com o objetivo de recuperar parte do que a Libretos perdeu na enchente de 2024 e poder participar com sua banca na Feira do Livro. Ah, ele é neto de Eduardo Guimaraens, escritor, tradutor e jornalista, considerado um dos maiores representantes da poesia simbolista no Brasil, patrono da Feira do Livro de 1969. E lançará na edição da feira de 2024, em coprodução com a Clô Barcellos, o "Almanaque 70 anos", em comemoração à data.

Defendo a escolha do nome de Rafael Guimaraens como Patrono da 70° Feira do Livro de Porto Alegre não só pelo que ele representa na história literária, não só como reconhecimento ao estilo que ele tem de contar histórias em detalhes e precisão como ninguém, mas, principalmente, porque Porto Alegre merece este presente!

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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