Quero conjugar o verbo esperançar

Por Marcia Martins

Até o meu último suspiro - se acalmem, não tenho planos traçados de partir tão cedo - quero conjugar em todos os momentos da minha vida o verbo esperançar. Simplesmente porque, com as catástrofes mais recentes que me impactaram - a pandemia da Covid, impondo um isolamento e me ensinando muito sobre empatia, e a enchente do final de abril e dias prolongados de maio, mostrando o caos que uma péssima administração pode gerar - aprendi que todo novo dia, a cada amanhecer, toda vez que o sol se apresentar radiante ou que eu precise encontrar beleza nos pingos moderados de uma chuva, é urgente esperançar.

Como já ensinou Paulo Freire, "esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir, esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo". E assim como disse o educador e filósofo Paulo Freire, eu, sobrevivente do confinamento da Covid e moradora de Porto Alegre quase ilesa dos estragos das cheias, quero ter a esperança de ir atrás, de ser propositiva, de buscar alternativas, de unir-me aos que buscam alternativas para a construção de uma sociedade melhor.

Não quero a esperança de sossegadamente esperar. Como quem senta numa cadeira de balanço - daqueles modelos bem antigos - e fica num movimento metódico a balançar as pernas a esperar. Que o pão se multiplique. Que o ódio desapareça. Que o rancor não prevaleça. Que as pessoas tenham as mesmas condições de vida, sem distinção nenhuma. Que ninguém mais morra de fome. Que todos tenham alimentos, educação e moradia. Eu quero esperançar. E realizar ações que ajudem a sociedade a esperançar, a ir atrás, a sonhar, a acreditar e jamais desistir de recomeçar e apostar que um dia, nós, humanos, voltaremos a ser humanos.

Porque, também como escreveu nosso poeta Mario Quintana, sei que em algum andar da nossa vida, em algum momento, em alguma situação, vive uma louca chamada esperança. Que só irá despertar, sobreviver e nos devolver a vontade de esperançar se nos movimentarmos. Eu ainda acredito que, um dia, ainda que possa estar distante, vamos todos juntos conjugar o verbo esperançar.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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