O papel da internet na construção da imagem dos candidatos

Por Elis Radmann

Na sociologia, o tempo destinado às campanhas eleitorais é chamado de tempo da política. É quando os eleitores prestam atenção nas narrativas dos candidatos ou em suas propostas e fazem as suas escolhas eleitorais. 

Ao longo dos últimos anos, o tempo oficial das campanhas eleitorais foi sendo, paulatinamente, diminuído. Os candidatos ficaram com menos dias para visitar os eleitores, para expor o material de campanha e, inclusive, um tempo menor de inserções de programas no rádio e na televisão. Em certo sentido, os candidatos precisam aprender a "se virar nos trinta".

Candidatos de primeira viagem ficam apavorados com o tempo exíguo para se apresentarem, demonstrarem suas ideias e conquistarem o voto. Uma tarefa ingrata, tendo em vista que os nomes tradicionais mantêm vantagem competitiva por estarem presentes na vitrine política, na mente dos eleitores. 

Mas, como se diz, nem sempre o que parece ser, o é. Na prática, o tempo da política se ampliou e houve uma divisão simbólica das etapas que antes eram centralizadas em uma campanha eleitoral. Temos que pensar que a eleição de um político perpassa três fases: a) reputacional, b) a propositiva e c) a cristalização dos votos.

No passado, todas essas etapas eram trabalhadas durante a campanha eleitoral, que se arrastava por meses. Com o advento da internet e as constantes mudanças eleitorais, houve um rearranjo natural deste processo e o movimento mais estratégico ocorreu na parte reputacional, que diz respeito à consolidação da imagem de um candidato.

Desde a eleição presidencial de 2018, os candidatos passaram a utilizar as redes sociais para posicionar a sua imagem, construir a sua identidade ou até polemizar para ganhar a atenção dos eleitores. Com as mudanças nas plataformas digitais, os políticos foram se adaptando, se tornando influencers com uma presença constante nas redes sociais e defendendo uma agenda política, causa ou ideologia. E essa construção de identidade se constitui em diferentes linhas editoriais nas quais o candidato a candidato apresenta seu cotidiano, o seu dia a dia com a família ou com o pet, conta as suas ideias ou o trabalho que vem executando, sem esquecer de relatar os seus sonhos e feitos, com a roupagem de #tbt. Em alguns casos, pode postar vídeos com ataques pessoais ou críticas a decisões políticas ou judiciais. 

No processo de construção da imagem, o candidato a candidato precisa fazer com que o seu nome seja conhecido pelo maior número de pessoas possível, que sua marca seja reconhecida e que os eleitores consigam externar uma opinião sobre ele, podendo até se tornarem seus promotores ou detratores.

Essa primeira etapa reputacional já está em curso há um bom tempo nas redes sociais, visando às eleições de 2024. Muitos candidatos a candidato já aparecem bem na foto, nos stories, nos vídeos ou até fazendo dancinha no TikTok. 

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

Comentários