Não tinha necessidade deste frio congelante
Por Márcia Martins

Não sei vocês. Mas eu não vejo a mínima necessidade deste frio congelante. Que é isso, minha Nossa Senhora das Pedrinhas de Gelo. Tenho passado os últimos dias tiritando com estas temperaturas extremamente baixas. Com as mãos paralisadas e tão geladas que até me assusto. Será que morri e ninguém me avisou? Os pés, às vezes, nem sinto que ainda me pertencem. E quando saio, por necessidade inadiável, como levar o canino Quincas Fernando para uma volta na quadra, me embrulho de tanta roupa. De noite, a minha companhia é o aquecedor, intercalado com mantas e cobertores espalhados no sofá.
Antes que alguém me acuse de vira casaca, preciso reafirmar que sim, sempre gostei mais do inverno. Não posso negar. Por entender que a estação fria favorece os encontros, estimula os cafés com amigos, é acolhedora para canjas fumegantes e até mesmo para um bom vinho em casa procurando filmes nos canais de streaming. Até arrisco que as pessoas ficam mais elegantes no inverno sem aqueles pingos de suor do verão e enroscadas em echarpes e pashminas.
Mas, por favor, seu inverno. Vai mais devagar. Pega leve. Não castiga tanto porque até acariciar as teclas do notebook para escrever essa coluna, fica bem complicado. Ser elegante então, com os termômetros marcando sete ou seis graus, está totalmente descartado. E planejar encontros com os amigos só quando chegar a primavera ou o verão. Já as canjas suculentas e os vinhos são bem aceitos. Coitado do cartão de crédito para financiar o consumo de vinhos tintos Cabernet Sauvignon.
Confesso que, ao longo dos meus mais de 60 anos (epa, confessando a idade) e da minha predileção pelo inverno, não me recordo de dias e noites assim tão frias. Aliás, me recordo de duas ocasiões em que a temperatura muito baixa até me assustou. Na noite da festa dos meus 15 anos - e isso foi há tanto tempo - fazia um frio horripilante e mamãe Mirthô acendendo velas pedindo para a temperatura aumentar um pouco. E na noite de 5 de julho de 2011, que passei no cemitério velando a minha mãe que morreu na tarde de 4 de julho.
E se eu, que tenho um teto para morar, agasalhos para me esquentar, comida quente e conforto como aquecedor à minha disposição, o que dizer das pessoas que vagam pela cidade em condições humilhantes de vulnerabilidade social?
Por isso, rogo ao senhor inverno que seja menos rigoroso, menos frio e menos úmido. Não exagere tanto nas baixas temperaturas. Eu reclamo, mas até aguento. Mas peço, encarecidamente, por todos que não têm onde morar, sem um teto quente para dormir, sem agasalhos para afugentar o frio, sem possibilidade de sopas e canjas fumegantes.