Minha mãe Mirthô, que nos deixou em julho de 2011, não cansava de falar para seu círculo de amizades às vésperas do início de alguma campanha eleitoral: "a partir de agora, a doida da minha filha (no caso essa que vos escreve) assiste hipnotizada aos debates em rádio e televisão e acompanha, sempre que pode, a propaganda eleitoral gratuita". Ela conhecia muito bem a sua filha mulher do meio. Jamais se enganou. Não sei se é por ter consciência plena e irrefutável de como as escolhas políticas são fundamentais no destino de nossas vidas ou pela história de militância ou qual o motivo, mas sou a mais assídua ouvinte e telespectadora do período eleitoral.
Por isso, ao contrário de outras ocasiões em que reclamo muito quando tenho que acordar cedo, na terça-feira (06), nem me importei de pular da cama um pouco antes das 8h, preparar um café revigorante e me posicionar para ouvir o debate entre os pré-candidatos e as pré-candidatas à Prefeitura de Porto Alegre, realizado pela Rádio Gaúcha. E não me arrependi. Valeu muito a pena ver que a inércia da atual administração municipal no tema dos alagamentos que destroçaram a cidade e desalojaram milhares de famílias será dominante em qualquer embate da próxima eleição.
Simplesmente porque é inadmissível que ainda existam famílias sem nenhuma possibilidade de cenário futuro pós enchente e recuperação das perdas materiais. Simplesmente porque é uma total incompetência que a Prefeitura não tenha enviado a tempo, para o Governo Federal liberar o auxílio reconstrução de R$ 5.100,00, o cadastro de muitas famílias enquadradas nos requisitos para receber o valor. Simplesmente porque, se ainda não bastasse tudo o que a população de Porto Alegre viveu na tragédia do alagamento, é surpreendente que pouco tenha sido feito desde então para atenuar o caos.
E não vai colar ? sinto muito ? ficar jogando a culpa em administradores anteriores. Ninguém quer saber se os 12 antecessores que governaram Porto Alegre desde a implantação do sistema de proteção das chuvas nada fizeram em termos de manutenção. O que interessa e deverá sim pesar muito no resultado da eleição de outubro é porque o atual prefeito não adotou nenhuma medida para reduzir os danos das inundações, porque, mesmo alertado por diversos técnicos, não investiu na manutenção das comportas, porque a cidade não tem um plano de contingenciamento.
O que estará em jogo com o barulho da urna eletrônica em 6 de outubro é a compaixão e a empatia com a população de Porto Alegre duramente castigada pelas chuvas torrenciais ? mas alertadas com antecedência ? de final de abril e maio. A capital gaúcha precisa de estratégias de gestão eficientes para prevenção, mitigação e adaptação de eventos climáticos extremos. Nas eleições, não deverá haver perdão para os culpados.