IN FORMA

Por Marino Boeira

A VERDADEIRA AMEAÇA DA DIREITA

Embora nenhuma das campanhas eleitorais dos últimos anos no Brasil tenha chegado ao baixo nível da que se desenrola esse ano para a prefeitura de São Paulo, com os candidatos fazendo inveja à uma briga de boteco, tal o uso de uma linguagem que não seria admitida num bolicho de estrada, no restante do País o nível não melhora muito.

Os que consideram a realização de eleições periódicas a grande prova de que vivemos num regime democrático, devem estar decepcionados com o que dizem seus candidatos no rádio e televisão.

Espaços que deveriam ser usados para um debate sobre grandes questões políticas da atualidade, servem apenas para que candidatos soltem a imaginação e prometam mundos e fundos que seus eleitores sabem que jamais serão alcançados.

Em Porto Alegre, a candidata do PT à prefeitura, Maria do Rosário, é certamente a mais ousada de todos os concorrentes nesse exercício de fantasias. Na semana que passou ela prometeu transformar Porto Alegre numa "cidade esponja" para evitar futuras enchentes.

Muito desse abastardamento da vida política se deve à presença dos chamados marqueteiros políticos, quase sempre jornalistas e publicitários, sem um maior nível cultural, que transformam uma disputa política na venda de um produto de consumo.

Os meios de comunicação reforçam essa alienação política dos candidatos, propondo a discussão de pautas quase exclusivamente técnicas. Isso favorece os tais marqueteiros que, sem quaisquer vínculos com a realidade, disputam uma competição sobre quem é mais original e criativo nesse jogo.

Dos quatro principais candidatos em Porto Alegre, Maria do Rosário e Juliana Brizola importaram marqueteiros de São Paulo para gerir suas campanhas, enquanto Camozzato e Melo estão se valendo de profissionais locais.

O resultado são debates no rádio e televisão de uma pobreza franciscana em que os candidatos, ou prometem mundos e fundos ou se limitam em seus debates a discutir quem é mais ou menos bolsonarista.

Esse tipo campanha política já provocou em São Paulo o aparecimento de um candidato da extrema direita, Pablo Marçal, que sem qualquer compromisso civilizatório, leva às últimas consequências o discurso de rompimento com o nosso sistema mais ou menos democrático. Ao contrário do Bolsonaro, que durante muito tempo polarizou esse tipo de discurso, Marçal é muito mais articulado e certamente convincente para seus eleitores em potencial, do que foi o ex-presidente. Logo vão surgir novos Pablo Marçal em outras grandes cidades do País e certamente também aqui.

O vazio dos discursos dos aspirantes a nossa Prefeitura, principalmente dos quatro que aparecem nas pesquisas com possibilidades de ganhar a eleição - Melo, Maria do Rosário, Juliana Brizola e Camozzato - prepara o terreno para a chegada de um panfletário de direta como o Marçal e aí será tarde demais.

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

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