IN FORMA

Por Marino Boeira

Em que você vai votar nas eleições dos Estados Unidos?

A renúncia de Biden à disputa eleitoral nos Estados Unidos, depois do seu fiasco no debate com Trump, é a notícia da semana.  A possibilidade cada vez maior de uma vitória do republicano nas próximas eleições norte-americanas assusta a esquerda liberal brasileira como se houvesse alguma diferença maior entre um democrata ou republicano na defesa dos interesses do imperialismo norte-americano no mundo e particularmente nas relações com o Brasil.

A rigor, sob ótica dos governos que mais dependem do apoio norte-americano, Israel e a Ucrânia, uma vitória de Trump não é hoje uma boa notícia. O republicano já reclamou dos gastos excessivos dos Estados Unidos nas duas guerras e está mais preocupado com as questões internas nos Estados Unidos do que com as externas. Já o democrata, seja qual for ele, é defensor da política de desgaste da Rússia na Europa e um prisioneiro do lobby judaico internamente.

Nessa hora os canais alternativos de comentários políticos na televisão dão muitas horas de espaço para quem é visto como especialista em questões internacionais. Um deles é o Tutaméia TV do casal Rodolfo e Eleonora Lucena, ele um tipo estranho com longas barbas brancas parecendo um profeta bíblico, que convidou o professor da USP,  o canadense Sean Purdy para falar sobre o tema.

O professor Purdy lembrou algumas obviedades mas que sempre é bom repeti-las:  as diferenças entre Democratas e Republicanas são muito pequenas nas questões mais importantes para o país, tanto as internas, quanto as externas; não existe para os americanos o voto obrigatório e com isso cerca de um terço dos eleitores inscritos não aparece no dia da votação, realizada sempre em dia de trabalho normal e não aos domingos como no Brasil e finalmente, o sistema eleitoral americano é muito confuso e nem sempre o mais votado no total do país é o eleito.

O professor canadense lamentou que não exista nos Estados Unidos um partido de esquerda, que rompa o dualismo entre republicanos e democratas e que empunhe a bandeira de defesa dos interesses das classes trabalhadoras e dos emigrantes, cada vez mais oprimidos no país e abandonadas pelos partidos tradicionais.

O professor Sean Purdy é mais um a também lembrar que a chamada sociedade afluente norte-americana é coisa do passado e que a pobreza e a miséria cada vez aumentam mais, principalmente nas grandes cidades. Ele dá um exemplo: a renda familiar se mantém estável, só que nas décadas de 60 e 70 ela exigia o trabalho de apenas um membro da família, quase sempre o homem e hoje é preciso que o homem e a mulher trabalhem fora para que a renda não caia.

Como já acontecera nas eleições parlamentares francesas, uma parte da esquerda liberal brasileira, tomou partido e torce pelos Democratas.

O que o Brasil ganha com isso? Nada.  Trump ou Kamala, se for ela a escolhida pelo Partido Democrata, pensam no Brasil como um pais de segunda linha, que historicamente sempre obedeceu os ditames de Washington.

É bom lembrar que o golpe militar de 1964, que gerou uma ditadura de 21 anos no Brasil, foi diretamente apoiado pelo governo norte-americano, que inclusive, segundo se soube depois, cogitou  enviar uma frota naval para apoiar os golpistas. Naquele ano, os Estados Unidos eram governados por Lyndon Johnson, do Partido Democrata, que se reelegeria presidente depois em novembro.

O embaixador norte-americano no Brasil, representando o governo de Johnson era Lincoln Gordon, cuja atuação a favor dos militares golpistas no Brasil foi pública e notória. Agora não faltam figuras do governo brasileiro "abrindo seu voto" para o candidato democrata, seja quem for. Lula, surpreendentemente mais prudente, já disse o óbvio: as relações são entre estados e não entre pessoas.

Fosse eu eleitor norte-americano, faria em novembro próximo o mesmo que fiz aqui em outubro de 2022 nas eleições brasileiras.. Entre Lula e Bolsonaro, anulei meu voto.

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

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