IN FORMA

Por Marino Boeira

O PÊNDULO POLÍTICO

O grande acontecimento da semana foi o atentado contra Donald Trump e subsidiariamente as interpretações que nasceram do fato.

Atentado contra presidente ou ex-presidente dos Estados Unidos não devia ser mais notícia. Aqueles malucos americanos que compram fuzis com a mesma facilidade com que os brasileiros compram feijão na feira, sonham em ter seus minutos de fama fazendo tiro ao alvo (ou tiro ao álvaro, como cantava o Adoniram Barbosa) em Presidente.

Lee Osvald ficou famoso por ter acertado John Kennedy em Dallas, em 1962 e o ator John Wilkey Booth,  a Abraham Lincoln num teatro de Washington em 1865. Menos conhecidos são os assassinos dos presidentes James Garfield em 1881 e Willian Mc Kinley, em 1901.

Esses foram os que tiveram sucesso em seus empreendimentos mortais. Outros tentaram, como foi o caso de Trump, mas falharam. A lista inclui atentados com armas de fogo e até granadas e as vítimas que escaparam com vida foram: Andrew Jackson em 1851, Theodore Roosevelt em 1912, Franklin Delano Roosevelt em 1933, Harry Truman em 1950, Gerald Ford em 1975, Ronald Reagan em 1981 e George Bush em 2005.

Uma vez que atentado contra Presidente ficou tão comum nos Estados Unidos, sobram como novidades os comentários sobre como isso vai influenciar nas eleições americanas.

Enquanto Biden, apesar de comprovadamente senil, insiste em continuar candidato, os milionários que sustentam o Partido Democrata começam a pensar num novo candidato. A advogada Kamala Harris, a atual vice-presidenta, surge como favorita. Além de bem mais jovem, 59 anos, entra nessa onda do politicamente correto. Seria, caso ganhasse as eleições, a primeira mulher a comandar os Estados Unidos. Só falta para a candidata ser perfeita, ter nascido negra.

À margem dessas questões concretas que interessam acima de tudo aos norte-americanos, nas redes sociais do Brasil o fato despertou inúmeras teorias conspiratórias. A mais comum delas é que o atentado contra Trump é uma fake news como teria sido a que vitimou Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018.  

Supondo que Adélio Bispo tenha sido contratado para fingir o ataque a Bolsonaro e que tenha se excedido na ação, o restante do enredo não se sustenta. Todos os médicos e enfermeiros que atenderam Bolsonaro em Juiz de Fora e depois em São Paulo deveriam ser coniventes com a farsa.

No caso de Trump isso é ainda mais improvável. O atirador contratado deveria acertar apenas e de raspão a orelha do candidato, sabendo que depois seria morto (eliminado no jargão do FBI) pelos agentes de segurança de Trump. Nem aquele sniper americano do filme do Clint Eastwood teria essa eficiência.

Somado esses fatos e interpretações, resta a avaliação de que não serão eleições dentro de sistemas capitalistas que resolverão os problemas dos eleitores, seja nos Estados Unidos, na Europa ou no Brasil.

Aqui no Brasil a nossa esquerda liberal comemorou como se fosse uma vitória da democracia ameaçada pelo fascismo o resultado das eleições na França. Num país de governo presidencialista, uma frente de partidos ditos de esquerda, fez maioria no congresso e ainda assim não absoluta, derrotando outra frente assumidamente de direita e que aparecia como favorita. Na Inglaterra, o Partido Trabalhista derrotou o Partido Conservador e vai indicar o Primeiro Ministro.

Ao contrário dos Estados Unidos, onde a direita de Trump, ao que tudo indica vai ganhar as eleições, em dois dos mais importantes países europeus, França e Inglaterra, foi a esquerda que avançou.

Nada que signifique uma mudança de rumo. França e Inglaterra, na política externa permanecerão dentro da OTAN obedecendo as ordens dos Estados Unidos para continuar apoiando a guerra econômica contra a Rússia e o genocídio de Israel em Gaza.

Internamente, o desemprego e a pobreza continuarão crescendo porque o sistema capitalista na Europa esgotou sua capacidade de gerar progresso para a maioria das pessoas.

Logo, o pêndulo vai mudar de lado e se inclinará para a direita, num movimento que irá se alternando até finalmente as pessoas se darem conta de que será preciso fazer uma nova revolução, como foi a burguesa de 1789, só que agora uma revolução socialista.

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

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