IN FORMA

Por Marino Boeira

A NOSSA MISÉRIA INTELECTUAL

A renúncia ao debate é também uma forma de renúncia ao pensar.

O aparecimento das redes sociais abriu a possibilidade das pessoas em geral escaparem da ditadura dos meios de comunicação tradicionais e exporem seus pontos de vista sobre importantes questões, principalmente as que dizem respeito à política. 

Apesar disso, uma rápida passagem pelo Facebook, por exemplo, mostra que a maioria das postagens são para exibir a foto do primeiro dentinho do filho amado, ou daquele pet tão engraçado.

O posicionamento político, fundamental para marcar nossa presença como cidadãos, é visto quase sempre sob uma ótica extremamente personalista.

Não se discute ideias. Se discute personagens.

Os que amam o Lula, odeiam o Bolsonaro.

Os amam Bolsonaro, odeiam o Lula.

O que seria uma opção político-partidária vira uma religião.

Lula é um santo que está fazendo milagres para salvar o Brasil, que o demônio Bolsonaro quase destruiu com o seu sadismo explícito.

Quem não adere a essa dicotomia é solenemente ignorado.

Quando respondeu ironicamente ao livro de Proudhon A Filosofia da Miséria, em 1948 com A Miséria da Filosofia, Karl Marx mostrou como é importante se pensar racionalmente sobre os fatos da economia e da política.

Hoje, a divisão maior na visão que temos sobre a política é entre um pensamento de esquerda e um de direita. A direita, na maioria das vezes renuncia ao pensamento crítico em favor do que considera as verdades reveladas. Cabe, com isso, à esquerda o pensamento crítico naquela linha proposta por Marx.

A esquerda, mesmo a não marxista, luta sempre pela chegada a um horizonte socialista. O que pode diferenciá-las é o uso de critérios de avaliação mais ou menos científico.

No caso específico do Brasil hoje é saber se o presidente Lula e o seu partido o PT lutam pelo avanço em direção ao socialismo, ou não?

Nossa posição é que não lutem por esse avanço e, mais do que isso, se esforçam pela consolidação do sistema capitalista. O atual governo do presidente Lula, tem sido um aliado consciente dos setores mais retrógrados do capitalismo,  basicamente o sistema bancário e o agronegócio.

 A consciência da existência de lutas de classe e a necessidade de apoiar a classe trabalhadora nessas disputas não fazem parte objetivamente das políticas do atual governo.

Para o atendimento do grande empresariado, os banqueiros e os latifundiários é que se orientam as políticas de estado hoje no Brasil.

É a política fiscal voltada para garantir o pagamento da dívida pública aos banqueiros e o crédito fácil dos bancos oficiais para o agronegócio exportador.

Para os trabalhadores um salário mínimo que só pode envergonhar o Brasil como nação civilizada e  uma pobreza cada vez mais assustadora que  o governo pretende mitigar com as migalhas da bolsa família.

Esses são temas que mereciam ser discutidos no Facebook e outras redes sociais, mas que quando alguém como eu os coloca em pauta é solenemente ignorado.

Um dos poucos canais que se propõe a agir politicamente nesse sentido é o da Revolução Brasileira . Segui-lo nas redes sociais e no YouTube pode ser o primeiro passo na luta por um Brasil socialista.

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

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