IN FORMA

Por Marino Boeira

A vez dos políticos

Mais uma semana e ainda sobram muito poucas linhas para falar em alguma coisa que não sejam as enchentes no Estado. Ao lado das fotos de ruas alagadas ou cheias de lixo onde elas começam a baixar e os testemunhos dos que perderam quase tudo nas enchentes, é tudo que se lê, ouve e vê na mídia.

A mobilização das pessoas para ajudar os que mais sofreram com as cheias foi comovente, mas logo vai se esgotar. Todo mundo quer voltar à normalidade de antes e o trabalho de rescaldo dessa imensa tragédia ficará por conta de administradores e políticos.

No caso de Porto Alegre, ficou claro para todos a incompetência visceral dos administradores da cidade na prevenção dos efeitos das cheias. Algumas notícias disseram que eles seriam chamados pela Justiça para prestar conta do que fizeram ou deixaram de fazer.

Ninguém precisa ser vidente para adivinhar que logo que chegue a bonança, isso começará a ser esquecido, todos tratarão de cuidar de suas vidas e o cenário será tomado novamente pelos velhos atores do passado: os políticos tradicionais envolvidos nas campanhas eleitorais que se aproximam.

Teremos eleições municipais ainda este ano e dois anos depois as que vão eleger governadores, senadores, deputados e mais importante de tudo, o Presidente da República. Em Porto Alegre, o PT, que depois de mandatos sucessivos de Olívio, Tarso e Pont, não governa a cidade desde 2005, quando o professor João Verle concluiu o mandato de Tarso que renunciara. Mais do que todos outros partidos ambiciona o PT retomar o comando de uma cidade, que é um símbolo na vida do partido.

Ninguém esquece que Olívio Dutra, junto com Luiza Erundina, em São Paulo, em 1988, foram os primeiros representantes do partido a conquistar as capitais de dois dos mais importantes estados do Brasil, São Paulo e Rio Grande do Sul. Mais tarde, Olívio daria ao PT o governo de um estado da importância política do Rio Grande do Sul em 1998. Desde que Tarso Genro encerrou seu mandato como governador do Estado em 2015, o partido não conseguiu mais conquistar os governos da Capital e do Estado.

Ganhar, primeiro, as eleições para prefeito de Porto Alegre este ano e depois, para governador do Estado, daqui dois anos são objetivos fundamentais para o partido, porque as duas eleições serão fundamentais para a candidatura de Lula à reeleição em 2026. Para isso, o partido já tem dois candidatos: a deputada Maria do Rosário, já indicada oficialmente, e o ministro Paulo Pimenta, lançado agora com pompa e circunstância pelo presidente Lula, informalmente.

A maneira como os políticos transformados em administradores, principalmente o governador Leite, o prefeito Mello e o candidato Pimenta, enfrentarão a reconstrução do Rio Grande do Sul será fundamental para a definição dos próximos pleitos.

Mesmo que todos os candidatos - Lula, Maria do Rosário e Pimenta digam que vão separar as ações que visam recuperar o Estado do embate político - todo mundo sabe que elas serão decisivas para suas aspirações eleitorais.

O primeiro ato das próximas eleições, no Município, no Estado e no País já começou.

Na segunda-feira, Leite falou em rede nacional no sempre prestigiado Roda Viva da TV Cultura. Como sempre se apresentou como um bom moço, cheio de boas intenções, pensando na felicidade dos gaúchos, trabalhando sempre ao lado do governo federal e como bom marqueteiro chamou pelo seus nomes todos os entrevistadores, como ensinou há muito tempo, no seu livro Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas, Dale Carnegie.

Na vida real, a FIERGS publicou nota oficial, que lida com cuidado e mostra o que nos aguarda para o futuro. Os empresários, grandes defensores do papel mínimo do Estado na economia, querem agora empréstimos a fundo perdido, adiamento no pagamento dos impostos devidos e mais arrocho salarial em cima dos empregados com redução de horas de trabalho e salários, trabalho à distância e férias coletivas.

E o Lula e o seu governo que tanto prometeram oferecem agora alguns poucos reais para comprar fogão, cama e geladeira que os pobres já tinham e perderam nas enchentes e antecipações de benefícios que de qualquer forma teriam que ser pagos.

Os milhões que serviriam para recuperar o Estado virão em forma de empréstimos através de bancos e que terão que ser pagos no futuro com juros e correção monetária.

Para finalizar, a dívida do Estado, que pelo projeto da deputada Melchionna seria extinta, virou apenas um adiamento de três anos para o pagamento da próxima parcela, porque a bancada do PT, atendendo ordens do Lula, não quer trazer um prejuízo, por menor que seja, para os bancos.

Mais uma semana e estaremos de novo falando em futebol e no Brasileirão.

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

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