IN FORMA

Por Marino Boeira

O mesmo do mesmo

Vou escrever sobre o quê ?

Numa semana em que tudo que se fala no Rio Grande é sobre essas cheias devastadoras que parecem querer acabar com a vida civilizada no Estado, mesmo que quisesse encontrar outro assunto, ele não existe.

Mas como quase tudo já foi dito resta repetir algumas coisas.

Primeiro: que a ineficiência criminosa de quem deveria cuidar da proteção de Porto Alegre contra cheias deverá ser averiguada e seus responsáveis devidamente identificados e punidos. Infelizmente, todos duvidam que isso possa acontecer. Quando passar, isso começará a ser esquecido, como já é uma tradição no Brasil.

Segundo: que a enorme solidariedade da população aos atingidos pela cheia não pode esconder que isso só se tornou necessário porque o Estado e suas instituições foram há muito capturados pelo poder financeiro dos grandes empresários que usam essas instituições para se beneficiarem, despreocupados com a população. Veja-se por exemplo o setor da construção civil. Constrói em qualquer lugar sem qualquer preocupação sobre normas ambientais e de segurança futura.

Terceiro: que os governos do Município, do Estado e do País, que deveriam ter planos preventivos para enfrentar calamidades como essa são sempre pegos de surpresa e o que oferecem depois são medidas paliativas. Especialmente o Governo Federal, que é o dono do maior cofre e o único que tem o poder de emitir dinheiro, se limita a tímidas medidas de apoio e infelizmente usa a calamidade para promoção política. Veja-se o que esse governo anuncia como grande auxílio ao Rio Grande: a isenção do pagamento da dívida do Estado para a União por 3 anos. No passado, as esquerdas aqui do Estado denunciavam essa dívida e diziam que ela era inexistente, hoje como estão no poder em Brasília, não só a aceitam, como saúdam o seu adiamento como uma grande vitória.

Quarto: finalmente, não podemos deixar passar em branco o oportunismo de muitos políticos que se valeram do que estava acontecendo no Município e no Estado para se auto promoverem.

Destaque especial para o prefeito Sebastião Melo, de uma infelicidade total em suas declarações sobre a responsabilidade da prefeitura na enchente e o ministro Paulo Pimenta, envolvido em bate-boca totalmente sem sentido com o prefeito de Farroupilha e falando em hipotéticas fake news no Jornal Nacional, quando o que as pessoas queriam saber eram medidas concretas para resolver o drama dos gaúchos.

Quem sabe na próxima semana terei assuntos menos dramáticos para comentar.

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

Comentários