Cidades e Poetas

Por José Antônio Moraes de Oliveira

Quando escrevem sobre suas cidades os grandes mestres da prosa se enternecem, se tornando poetas. Dizem que existe um cordão umbilical que nos mantém ligados à cidade-berço. Um poeta lisboeta - de quem não guardamos o nome - compôs uma pequena jóia, que tanto vale para Lisboa como para as cidades  de nascimento de qualquer um de nós:

"A minha cidade é feita de luzde sóis e de luas, de esquinas e ruas e de lençóis à janela".

Outro apaixonado por sua cidade-natal, o uruguaio Eduardo Galeano, assim a descreveu

" Montevidéu é uma cidade onde as pessoas amam sem se  falar e abraçam sem se tocar".

Nos últimos anos de vida, já com 40 livros publicados, ele saía  de casa, no bairro de Pocitos, para caminhar pelas ramblas que margeiam o Rio da Prata. E dizia estar em busca de inspiração para escrever mais livros:

"Caminho pela cidade onde nasci. Ando nela e ela anda em mim. E enquanto vou, as palavras caminham dentro de mim e vão formando estórias".

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Outro apaixonado por Montevidéu, Mario Benedetti afirmava que as ruas da Ciudad Vieja tem vida e alma próprias. E que vivia em uma cidade respirável e amigável - um luxo cada vez mais raro no mundo atual. As lendas contam que escreveu seu romance   "A Trégua" em uma mesa do antigo Café Sorocabana, na Calle 25 de Mayo. Perto dali, o Café Brasilero, na Calle Ituzaingó, é  outro favorito dos intelectuais, onde Eduardo Galeano costumava rabiscar poemas em guardanapos.                                

Assim como eles, tantos outros escreveram sobre suas cidades, revelando segredos e mistérios. Em Portugal, Fernando Pessoa dedicava versos à sua Lisboa e na Irlanda, James Joyce passeia pelas ruas, praças e pubs de Dublin. Enquanto isso, em 1890, um jovem estudante chamado Valentin Louis Georges Eugène Marcel Proust escreve sobre sua cidade. E mesmo no final da vida, recluso e adoentado, continuava a escrever sobre becos e quartiers de Paris.

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Para quem deixou seu coração em Paris, Lisboa, Dublin ou em Montevidéu, não vai precisar de passaporte para ir resgatá-lo. Basta seguir as pegadas dos escritores e poetas que as amaram profundamente.

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Autor
José Antônio Moraes de Oliveira é formado em Jornalismo e Filosofia e tem passagens pelo Jornal A Hora, Jornal do Comércio e Correio do Povo. Trocou o Jornalismo pela Publicidade para produzir anúncios na MPM Propaganda para Ipiranga de Petróleo, Lojas Renner, Embratur e American Airlines. Foi também diretor de Comunicação do Grupo Iochpe e cofundador do CENP, que estabeleceu normas-padrão para as agências de Publicidade. Escreveu o livro 'Entre Dois Verões', com crônicas sobre sua infância e adolescência na fazenda dos avós e na Porto Alegre dos velhos tempos. E-mail para contato: [email protected]

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