Chico Buarque é a definição completa de perfeição

Por Márcia Martins

Se, neste mundo, existe um ser humano que represente a mais completa definição de perfeição, ele tem nome, sobrenome, parentes famosos, história em verso, prosa e música, currículo invejado, respeito, família amada e inteligente, fãs em todos os cantos do Brasil e no exterior de qualquer faixa etária e mulheres que prometem querê-lo até o amor cair doente. E, que, mesmo assim, seguem encantadas ao lado dele. Sim, falo aqui do Chico Buarque de Hollanda, quase uma unanimidade nacional, e que comemora 80 anos nesta quarta-feira, 19 de junho. 

Quem me acompanha, no portal ou nas minhas redes sociais, sabe que eu sou uma "chicólatra" confessa, assumida e até com uma dose perigosa de loucura. Sim, porque eu juro que se não tivesse uma Carol Proner no meio do caminho, um dia, ainda nesta encarnação, Chico iria me conhecer, se apaixonar, cantar nos meus ouvidos as mais belas músicas me fitando com aqueles olhos enigmáticos cor de ardósia (pedra muito usada na decoração de ambientes). E sem dúvida, se me pedisse em casamento, seria o único homem a me fazer empreender tal loucura e entrar na igreja de véu, grinalda e flor de laranjeira.

Como tiete endoidecida do músico filho de pai paulista, avô pernambucano, bisavô mineiro e tataravô baiano, eu nem me importo com a quantidade de outras mulheres também apaixonadas pelo Chico Buarque. Nem mesmo da Carol, eu tenho ciúmes (tá bom, uma certa inveja que não sou assim tão legal). Simplesmente porque tenho certeza que Chico Buarque de Hollanda pode, a qualquer hora, chegar sorrateiro, sem trazer nada e nada perguntar, se instalar feito um posseiro dentro do meu coração.

E se ele chegasse, teria um jeito manso só seu de me deixar maluca ao me roçar a nuca e fazer minha pele ficar toda arrepiada só de beijar minha boca. E que nós iriámos amar noites afora, fazendo a cama sobre os jornais, um pouco jogados fora, um pouco sábios demais. Porque, se ele me conhecesse, veria que eu sou aquela, filha da rua, cria da sua costela e sob medida para os carinhos de Chico. Assim, como no cinema, ele me mandaria, às vezes, uma rosa e um poema, foco de luz, eu como uma gema, me desmilinguindo toda ao som do blues.

Enfim, Chico é a definição completa de perfeição. Não porque eu o amo demais. Mas por ser um ídolo nacional, um compositor excepcional, o letrista do sexo masculino que penetra com exatidão no universo feminino e retrata com requinte a alma da mulher, que descreve como ninguém as dores e as alegrias da paixão. Por ser um homem sempre posicionado e denunciando os momentos de chumbo vividos no Brasil, obrigando-se a usar pseudônimos para burlar a censura e se exilar na Itália, em 1969, devido à repressão do Regime Militar no Brasil.

Independente de idolatria de fã, amor feminino ou loucura de Márcia, não é possível ignorar a importância de Chico Buarque para a história e construção da Música Popular Brasileira. Ele carrega uma discografia de mais de 80 discos, parcerias importantes com Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Milton Nascimento, Francis Hime, Edu Lobo, entre tantos. Especialista em composições em que retrata com perfeição o lado feminino nas relações sentimentais e músicas que se eternizaram nas vozes de Elis Regina, Gal Costa, Maria Bethânia e Fafá de Belém. E autor de obras teatrais como Roda Vida, Calabar e Ópera do Malandro. 

Defendo que o dia 19 de junho seja feriado nacional. Esse geminiano que desafiou o anjo safado, o chato do querubim, e não cresceu errado assim, que é capaz de amar daquela vez como se fosse a última (letra tatuada na parte inferior da minha perna direita), que não ficou à toa na vida esperando a banda passar e acredita que deve haver um lugar, uma espécie de bazar, onde os sonhos extraviados vão parar, merece!

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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