Companheira: eu sozinha ando bem, mas com você ando melhor

Por Márcia Martins

Na coluna anterior, já alertava que não seria a primeira vez a insistir no assunto da necessidade fundante de aumentar, especialmente no Brasil, a representatividade das mulheres na política. Peço perdão por voltar ao tema em intervalo de tempo tão curto, e prometo por todos os santos, deuses, guias e orixás, dar uma folga aos meus leitores e leitoras nas próximas semanas. Mas, um levantamento divulgado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), na última terça-feira, com o percentual de candidaturas femininas e de pessoas negras por partidos políticos me forçou a retomar tal temática.

No site do TSE, nas eleições de 2024 para cargos municipais, que ocorrem em 6 de outubro, em primeiro turno, e em 27 de outubro, em segundo turno, de um total de 456.310 candidaturas registradas, apenas 155 mil são de mulheres e 301.320 de homens. É extremamente preocupante essa baixa participação das mulheres na política, visto que somos mais de 52% do eleitorado. Logo, podemos concluir que temos ainda poucas mulheres que se dispõem a entrar na vida política e, lamentavelmente, poucas mulheres votam em mulheres. Porque, mesmo em franco crescimento nas últimas eleições, nem todas as candidatas obtém votos suficientes.

A violência política de gênero no Brasil, que aumentou de forma preocupante desde o golpe de 2016, e provoca novas vítimas em todos os cantos do País, pode ser um dos entraves para que as mulheres não apostem na vida política. Até porque os agressores das parlamentares ou ex-parlamentares, em sua maioria, desfrutam de uma impunidade desanimadora. Portanto, essa violência é sim uma das causas da sub-representação das mulheres no Parlamento e nos espaços de poder e decisão, aliada à lentidão ou inexistência da punição aos agressores.

Faço um apelo: acreditem no poder de governar das mulheres. Nós podemos. E faço um desafio: coloquem fé na potência de administrar das mulheres e comprovem a capacidade feminina. Nós podemos. Eu asseguro. De um total de 156 milhões de eleitores aptos a votar para escolher prefeitos (as) e vice-prefeitos (as) em 5.569 cidades do Brasil, e aproximadamente 58 mil vereadores (as), 81,8 milhões são mulheres, segundo os dados do TSE.

Mas, ao insistir na importância de se eleger mulheres para cargos políticos, falo em escolher mulheres comprometidas com as lutas primordiais para os movimentos feministas. Ou seja, que atuem na busca incessante dos direitos iguais para as mulheres, que defendam as conquistas já adquiridas, e que barrem projetos abjetos que violam a nossa dignidade.

Companheira, me ajude. Eu sozinha ando bem, mas com você ao meu lado, acreditando nas mulheres, eu ando melhor, e tenho a certeza de que iremos construir uma sociedade mais livre e democrática, com mais justiça social, em que modelos femininos possam ser símbolos de inspiração para meninas e mulheres.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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