A síndrome do dedo apontado para o outro

Por Luan Pires

É comum em grandes tragédias que pessoas se mobilizem para fazer a diferença. Seja pelo sentimento de utilidade, empatia, necessidade social ou facilidade pura e simples em ajudar o outro, nessas situações muitos fazem acontecer. Mas, o humano, esse ser complexo e cheio de camadas, tem o que eu chamo de "síndrome do dedo apontado". Se comparam com os outros para, de alguma forma, receberem validação de que o seu esforço é maior do que o do coleguinha e que a sua recompensa (que cada um acredita vir de algum lugar) deve ser maior.

Ocupados em apontar como cada um poderia ajudar mais ou como o outro poderia sacrificar mais ou como o vizinho faz bem menos do que deveria, perdemos o ponto: deixar de usar as mãos pra acolher e usar pra apontar. A crítica é algo necessário para a sociedade, sem ela, estaríamos fazendo as mesmas coisas dos mesmos jeitos sem repensar o que poderia ou não ser melhor. Mas, a crítica com a finalidade de afagar o ego é um fungo que se espalha pela alma, entra no buraco da falta de realização e sufoca em vida qualquer ato bondoso.

Se você está mais preocupado em competir pra ver quem ajuda mais, sem entender a complexidade do histórico de cada um (e aqui entra histórico mental, material, sócio-culural e de diversidade) você não está ajudando os outros, você está apenas preenchendo seu senso de utilidade porque no fundo você não se acha útil.

Então, queridinhos, menos dedos apontados, mais mãos acolhendo, mais braços entrelaçados, mais diversidade de possibilidades e menos comparação. A síndrome do dedo apontado é um veneno: endurece o dedo e cutuca a própria alma como uma faca que você quer direcionar para o outro, mas aos poucos, vai enfiando no próprio peito.

Com Amor, Vida. 

Autor
Luan Nascimento Pires é jornalista e pós-graduado em Comunicação Digital. Tem especialização em diversidade e inclusão, escrita criativa e antropologia digital, bem como em estratégia, estudos geracionais e comportamentos do consumidor. Trabalha com planejamento estratégico e pesquisa em Publicidade e Endomarketing, atuando com marcas como Unimed, Sicredi, Corsan, Coca-Cola, Auxiliadora Predial, Deezer, Feira do Livro, Museu do Festival de Cinema em Gramado, entre outras. Articulista e responsável pelo espaço de diversidade e inclusão na Coletiva.net, com projetos de grupos inclusivos em agências e ações afirmativas no mercado de Comunicação. E-mail para contato: [email protected]

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