A roda da Fortuna

Por José Antônio Moraes de Oliveira

27/06/2024 13:56
A roda da Fortuna

"Nenhum homem pode fugir do seu destino...".

In Carmina Burana.

***

O músico alemão Carl Orff ficou conhecido como autor de uma trilogia musical que inclui a cantata Carmina Burana, uma obra-prima no gênero. Estreada em 1937, como uma versão moderna da ópera, é baseada em textos e versos arcaicos, escritos por monges errantes no século XII. O tema central é a mítica Roda  da Fortuna, um conceito ancestral dos caprichos do Destino.

 ***

Também citada como Timão da Verdade, a Roda da Fortuna é movida por uma deusa greco-romana, que a faz girar, mudando o futuro dos homens, lhes concedendo boa ou má sorte. Assim, ou estamos na parte superior da Roda - e somos felizes - ou na parte inferior, infelizes e sem esperança. Segundo rezam os desígnios da deusa, não podemos fugir do destino que  nos cabe.            

***

O libreto da cantata incorpora antigos versos nórdicos contendo críticas ferozes às autoridades da época. Ali Carl Orff vislumbrou uma celebração do triunfo do espírito humano. Uma filosofia bem adequada ao pensamento pan-germânico daqueles tempos que antecederam ao III Reich. E que valeram ao músico acusações de simpatias pelo novo regime.

***

O compositor preservou a integralidade dos textos medievais, descobertos em 1803, em um mosteiro beneditino da Baviera. Em Carmina Burana, ele desfila conceitos e dogmas que vem se repetindo ao longo dos séculos:

"A verdade sempre vem à tona. A mentira não vai longe, pois as imperfeições 

  humanas acabarão por revelá-las".

***

Coincidentemente ou não, alguns dos versos atribuidos a monges rebeldes da Idade Média replicam textos do Evangelho de São Lucas:

"Não existe nada escondido que não venha a ser revelado. Oculto, que não venha a ser conhecido. Encoberto, que não haja de ser descoberto".

***