A primeira viagem

Por José Antônio Moraes de Oliveira

01/08/2024 17:52 / Atualizado em 01/08/2024 17:46
A primeira viagem

 

     "- Você viaja para reviver seu passado?    

    Ou para encontrar seu futuro??.

Viagens de Marco Polo".

Era uma viagem com sabor de aventura para um guri de cidade que nunca saía de perto de casa. Acordamos na madrugada, ouvindo a buzina do Chevrolet do seu Nestor, o motorista que fazia ponto na Praça Júlio de Castilhos. O carro negro e lustroso desliza pela cidade ainda adormecida, até chegar ao portal de ferro da entrada do porto. A aventura começava, atravessando debaixo dos guindastes vermelhos que pareciam alcançar as estrelas. E seguíamos sacolejando ao longo do cais, por navios chegados de portos do outro lado do mundo.

Era a hora de mais emoções. Na ponta do cais se avistava o rebocador Teutonia I, que nos levaria para o Sul, vencendo as ondas da grande lagoa. Eu já saboreava um gosto de perigo, quando caminhei pela estreita prancha de madeira suspensa sobre as águas escuras. Foi quando um marinheiro me ergueu no ar e me colocou no convés do barco. 

Ouço o vento zunir nas cordas, o guincho agudo das gaivotas e o hipnótico bater das águas no casco de ferro. O rebocador apita e aprova ao Sul. Buscamos o aconchego do ombro da mãe, que nos aponta para a cidade que se afasta. Em algum lugar do cais, oculto pela bruma que sobe do rio, o pai acena seu invisível adeus.

E do outro lado das águas, outro mar nos aguardava, o mar de campos verdes sem fim nem horizontes. Estavam chegando as férias de verão, dos cavalos, dos assados de ovelhas, do cheiro  de mato e das estórias de assustar crianças ouvidas no galpão das carroças.

Muito tempo passou e depois de não sei quantas viagens feitas e refeitas, os sons e luzes daquelas travessias voltam fortes e nítidas. Acontece a cada vez em que releio um dos livros de meu pai, o que conta a estória do viajante que passou a vida à procura do lugar onde havia sido feliz.