A mídia abalada

Por Vieira da Cunha

01/07/2024 14:27 / Atualizado em 01/07/2024 14:26
A mídia abalada

O grupo virtual Nova Coonline tem gerado conversas provocadoras e reveladoras em encontros semanais que reúnem cerca de 20 jornalistas experientes do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Rio e Brasília. A imprensa é geralmente o tema dominante nestas conversas. Já passaram por ali, entre outros, o repórter Ricardo Kotscho, vencedor de prêmios internacionais de Jornalismo, capaz de falar com propriedade também sobre política; a colunista Rosane de Oliveira, que não se omitiu em falar sobre os problemas que enfrenta com o Judiciário e com os xingamentos nas redes; o jornalista Paulo Gasparotto, contando um pouco das entranhas do colunismo social... Há várias entrevistas com seus momentos inteligentes, todas publicadas no canal da Nova Coonline no YouTube.

O mais recente encontro ocorreu na semana passada, com Antônio Britto. Jornalista de origem, ficou bem à vontade ao conversar com o grupo de colegas, embora da profissão esteja afastado há um bom tempo, desde que, em meados dos anos 80, iniciou uma carreira política que culminou com uma eleição ao governo do Estado. Não fugiu de nenhuma provocação do grupo, inclusive comentar sobre o momento da imprensa convencional, que definiu como triste. Uma tristeza mesmo, devido às limitações causadas por dificuldades econômico-financeiras, que limitam a atividade jornalística. Sobre isso discorreu com propriedade, e vale conferir na rede, onde repercutiu bastante.

Um ponto sobre o qual muito se falou neste encontro foi a falência, ou quase, da reportagem. Os custos operacionais, os desafios das postagens de informações nas redes sociais, a concorrência estabelecida nesta plataforma, não faltam motivos a explicar por que a imprensa convencional dedica espaços insuficientes a este segmento do jornalismo. 

Há clarões neste vazio, como o trabalho exemplar apresentado no último fim de semana pelo Valor Econômico. Publicou um caderno com o resultado do trabalho realizado por seus repórteres em maio, quando percorreram mais de mil quilômetros do Rio Grande do Sul ouvindo cidadãos, empresários e autoridades para compor o cenário da catástrofe que abalou o Estado. O caderno tem 42 páginas, a metade dela ocupada por mensagens publicitárias que renderam declaradamente R$ 1.053.659,00, valor que, informou o diário, será doado para instituições sem fins lucrativos que operam na assistência aos desabrigados gaúchos.

Cá no paralelo 30, Zero Hora surgiu remodelada e modernizada semana passada, repleta de colunas e de opiniões. Ainda falta mais aprofundamento investigativo, o que está prometido. De qualquer forma, são dois respiros elogiáveis nesta quadra do jornalismo, com suas dificuldades em relação a recursos e a atenção de seu público.

No ano passado, uma pesquisa do Instituto Reuters revelou mais um dado preocupante ? de cada grupo de 100 brasileiros, 41 não se interessam por notícias. Inclusive nas redes houve uma redução deste povo especialmente no uso do Facebook para disseminação de notícias. Em 2023, perdeu 35% do volume de notícias, espaço que de alguma forma foi ocupado pelo Instagram e pelo TikTok. A isso se soma um declínio acentuado na confiança geral nas notícias: era de 48% em 2022, caiu para 43% em um ano.

O ciclo de desconfiança é agravado pelas tortuosas manifestações contrárias ao papel da imprensa, incompreendida em seu papel de mensageira. E agredida graças a esta distorção de entendimento. Por tudo, a imprensa e os jornalistas profissionais, hoje como antes e sempre, precisam ser apoiados. Na era das falsificações e fraudes de todo gênero, ainda são eles que nos ajudam a separar o joio do trigo. Nas palavras do fundador do Orkut, o engenheiro turco Orkut Buyukkokten, dar este apoio ?é mais vital do que nunca nesta era em que o volume de fake News não para de aumentar?.