A liberdade de expressão ameaçada

Por Marino Boeira

Enquanto a direita está toda unida denunciando que houve fraude na eleição de Nicolás Maduro, na Venezuela, a esquerda aparece dividida com um discurso contraditório. Alguns dos seus porta-vozes compraram a versão da grande mídia, que reproduz o pensamento de Washington de que Maduro seria um ditador, embora tenha sido eleito pela terceira vez com amplo apoio popular.

O que essa esquerda alienada não percebe é que por trás dos rótulos de democracia e ditadura existe uma realidade maior: o esforço do imperialismo norte-americano de manter todos os países abaixo da linha do Equador sob a sua tutela política e econômica.

O Império tolera a existência de Cuba socialista porque é um país de escasso poder econômico. A Venezuela é outra história. Embora se fale em transição energética, por muitos anos ainda o controle da produção do petróleo será vital para a economia mundial e a Venezuela é um dos países do mundo mais rico em petróleo.

Os Estados Unidos, agindo como gangsters internacionais, sequestraram os ativos financeiros da Venezuela em bancos americanos oriundos da venda do petróleo, tentando esmagar economicamente o País. Mais adiante, como precisaram importar esse petróleo aliviaram algumas sanções, mas agora ameaçam novamente retomá-las.

Por isso, os Estados Unidos usaram todos seus canais de mídia para tentar vender a imagem de uma ditadura na Venezuela e criaram a suspeita de que houve fraudes nas eleições. Logo os Estados Unidos, onde o modelo eleitoral foi criado para impedir que o voto popular seja o critério para a eleição do presidente.

Bush Filho e Trump se tornaram presidentes dos Estados Unidos embora tivessem menos votos que Gore e Hillary Clinton. No caso de George Bush foi preciso que a recontagem de votos fosse cancelada na Flórida para garantir sua vitória contra Al Gore.

Infelizmente essa análise passa longe da mídia brasileira. E não é apenas os Estados Unidos que recebem um tratamento especial por parte dela. Atualmente o caso mais escandaloso é o apoio ao estado de Israel, mesmo quando o país pratica um genocídio explicito contra os palestinos em Gaza.

Aqui em Porto Alegre, a RBS não só apoiou desde o início a ação de Israel em Gaza, como deu espaço em seu jornal Zero Hora para "a pedidos" de empresários e personalidades locais em favor da ação armada dos sionistas.

Ao lado dessa mídia comprometida com as ações de Israel na Palestina se erigiu um novo poder ameaçando os jornalistas e personalidades do mundo do Direito que teimam em contar a verdade. Esse estranho poder que viceja no Brasil é o da CONIB - Confederação Israelita do Brasil - que está ameaçando quem pretende exercer o direito assegurado pela Constituição do Brasil de dizer e escrever o que pensa.

O primeiro caso e mais notório de todos foi os processos da CONIB contra o jornalista Breno Altman, que citando inclusive fontes judaicas como o professor Shlomo Sand e o americano Norman Finkelstein, contesta as ambições colonialistas e racistas de Israel na Palestina.

Depois foi o juiz aposentado gaúcho Pio Giovani Dresch, que ousou descrever o que se passa em Gaza, onde Israel promove um genocídio de palestinos só comparável aos dos judeus pelos nazistas na Segunda Guerra.

Essa semana, a CONIB atacou o jornalista esportivo Juca Kfouri. Seu "crime": dizer que o COI (Comitê Olímpico Internacional), ao mesmo tempo que impede a participação da Rússia nos jogos olímpicos por causa da invasão da Ucrânia, não deveria permitir a participação de Israel em razão do genocídio do povo palestino. Kfouri está sendo acusado de antissemitismo,

Uma vez que o governo brasileiro vem se mostrando omisso na defesa desses brasileiros ameaçados em seu direito de livre expressão, que ao menos as entidades de classe dos jornalistas e dos meios jurídicos se manifestem em defesa dos seus representantes.

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

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