A história como ela foi (III)

Por Vieira da Cunha

Coletiva.net completou 25 anos de uma incrível trajetória. De uma simples folha de fax é hoje portal, canal de YouTube, emissora de rádio, revista.

Testemunha e personagem desta história, tento contar como tudo começou.

O resultado desta trajetória de 25 anos é conhecido e aplaudido. Ao dedicar-se a tratar quase que exclusivamente dos acontecimentos ligados à comunicação, fazendo isso sem qualquer tipo de sensacionalismo ou apelação, Coletiva.net assegurou junto a seu público um nível de credibilidade e influência espetacular. 

Era isso mesmo, e ali por 2005 Coletiva.net já podia exibir com orgulho o slogan de que era o veículo da "Comunicação da Comunicação".  Se hoje parece rotina, foi o portal que implantou a forma de cobertura de eventos em tempo real. A primeira ação deste gênero foi um congresso da Agert em 2001, seguido do Salão da Propaganda no ano seguinte, do lançamento do TOP de Marketing ADVB, do Festival Mundial de Publicidade em Gramado - e não parou mais. O ineditismo nas coberturas online acabou se tornando uma das marcas registradas. Ibsen Pinheiro, que se notabilizou na política e no jornalismo como um mestre no jogo de palavras, definiu com brilhantismo a instantaneidade oferecida pelo veículo online em uma comparação com a imprensa convencional. Decretou ele: "O Coletiva.net é um misto de jornal e de rádio. Ele é eletrônico, mas é escrito, ele é instável como um jornal e veloz como o rádio. Por isso, se destaca e tem um papel crescente em nossas vidas".

Nós registramos em 2003, em um paper que comemorava os primeiros feitos relevantes do Coletiva, que, se de um lado o mercado resistia e revelava profunda dificuldade em transformar-se em fonte de notícias, de outro, cada vez mais prestigiava e ansiava por novas informações. Não tenho a menor dúvida em afirmar que foi graças à atuação do Coletiva que nossas empresas de comunicação, grandes agências e veículos passaram a dar atenção a seus processos de comunicação com o mercado. Criaram ou contrataram assessorias de imprensa para dar atenção à nova demanda surgida no mercado e, na medida do possível, e como qualquer outra empresa, cuidar da imagem corporativa e evitar vazamentos de informações consideradas delicadas ou impróprias para consumo externo.

O importante é que, como registrou o publicitário Antônio D'Alessandro, diretor da DCS, então a maior agência do Rio Grande do Sul, a precisão no trato com a informação, aliada à credibilidade conquistada pelo Coletiva, acabou com a rádio corredor. Na dúvida sobre a veracidade ou não de alguma informação, era no Coletiva que se buscava a resposta certa. 

Por tudo, não foi por acaso que o veículo se notabilizou por furos jornalísticos que até contribuíram para mudar a própria história da comunicação no Rio Grande do Sul. O melhor exemplo envolve os jornais O Sul e Diário Gaúcho. Foi o Coletiva que revelou, com riqueza de detalhes, que a Rede Pampa, detentora de canais de rádio e televisão, se preparava para lançar seu primeiro jornal impresso, direcionado às classes C e D, público que uma pesquisa identificara como carente de informação. A notícia privilegiada provocou nervosismo nos gabinetes da RBS, que acalentava um projeto semelhante dedicado ao leitor de menor poder aquisitivo. E com isso a empresa da família Sirotsky acelerou o processo de lançamento do Diário Gaúcho, o que acabaria ocorrendo em abril de 2004. Prudente, a Rede Pampa não desistiu de seu plano, mas evitou a concorrência com o jornal popular da RBS, direcionando o seu O Sul para as classes A e B. 

Houve muitas outras informações exclusivas que balançaram o mercado. Como o episódio da compra da agência Escala pelo grupo liderado por Washington Olivetto, um segredo mantido a sete chaves, até que... Coletiva.net deu o furo. Outro digno de registro foi o anúncio pelo governo do Estado, ali por 2003, divulgando seu novo slogan, "Juntos seremos fortes". A novidade não sobreviveu uma semana depois que Coletiva revelou que este era um mantra adotado por milhares de empresas e entidades, entre elas movimentos nazistas. Ante a repercussão negativa, o governo não teve alternativa senão a de voltar atrás, alterando seu slogan para um singelo "Estado que trabalho unido". E para contar sobra uma boa curiosidade envolve o repórter Marcos Losekann. Atuava no escritório da Globo em Londres e estava tratando com a maior discrição seu futuro profissional, que envolvia o retorno ao Brasil. Ele mesmo acabou se dizendo surpreso quando leu no Coletiva a informação super reservada.

E por aí seguiu Coletiva.net, escrevendo a história da comunicação do Rio Grande do Sul. Seu desafio agora é saber navegar nas águas turbulentas e lamacentas das redes sociais mantendo sua integridade e dignidade. 

Autor
José Antonio Vieira da Cunha atuou e dirigiu os principais veículos de Comunicação do Estado, da extinta Folha da Manhã à Coletiva Comunicação e à agência Moove. Entre eles estão a RBS TV, o Coojornal e sua Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre, da qual foi um dos fundadores e seu primeiro presidente, o Jornal do Povo, de Cachoeira do Sul, a Revista Amanhã e o Correio do Povo, onde foi editor e secretário de Redação. Ainda tem duas passagens importantes na área pública: foi secretário de Comunicação do governo do Estado (1987 a 1989) e presidente da TVE (1995 a 1999). Casado há 50 anos com Eliete Vieira da Cunha, é pai de Rodrigo e Bruno e tem quatro netos. E-mail para contato: [email protected]

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