A eleição é sempre uma guerra de percepções

Por Elis Radmann

As campanhas eleitorais estão literalmente nas ruas! Se fazem presentes em diferentes canais do nosso cotidiano. O eleitor liga a TV ou escuta uma rádio e se depara com comerciais dos candidatos. Quando entra nas redes sociais, acaba sendo impactado por uma postagem patrocinada ou até mesmo recebe conteúdo políticos em grupos de Whats. E ainda há muitos eleitores que recebem a visita de candidatos ou veem carreatas gigantescas.

E por trás de tudo isso está a comunicação política que, com base em uma estratégia de posicionamento, utilizando a capacidade de convencimento e persuasão, mobiliza grandes batalhas simbólicas de percepções, em que o mais importante não é o que é dito, mas o que é percebido, a leitura do eleitor. Antigamente chamaríamos de moral da história.

Não podemos esquecer que as mídias digitais têm revolucionado o cenário político das cidades, do país e do mundo. Elas proporcionam acesso à informação instantânea, empoderando o eleitor com espaços públicos para o debate e críticas.

Alguns anos atrás não era possível o eleitor entrar na página do candidato e dizer o que pensa, sem filtros. A desvantagem deste processo é que militantes e partidários de qualquer lugar do Brasil podem entrar na página de um candidato com o propósito de desqualificá-lo, criando a ideia de cancelamento digital. Esta tática também faz parte da guerra de percepções.

Ainda analisando os prós e contras, a mesma internet que democratizou a participação da população, também favorece que o debate seja cada vez mais efêmero e superficial. Não é à toa que encontramos candidatos e Prefeitos que defendem a essência da política e se negam a se comportarem como "influenciadores digitais". Significa dizer que o eleitor está mais afim de candidatos que façam o seu "entretenimento" do que mostrem soluções.

A guerra de percepção em um mundo digital favorece inclusive a desinformação e as Fake News, confundindo e trazendo insegurança ao eleitor e influenciando na decisão de voto.

Tudo isso acontece em uma cultura política de ceticismo, cenário em que o eleitor mostra a sua indignação e decide o seu voto pelo personalismo político dos candidatos. O voto segue uma racionalidade subjetiva, baseado nas características do candidato e em resposta ao tom emocional das campanhas.

As pesquisas realizadas pelo IPO - Instituto Pesquisas de Opinião demonstram que apenas 1/3 dos eleitores estão assistindo ao horário eleitoral gratuito, mas a maioria está sendo impactada pela tradicional visibilidade de rua, com os materiais que fazem a divulgação da marca do candidato. A partir desse material, os eleitores pesquisam nas redes sociais, "stalkeando" a vida deste candidato e construindo elementos para sua decisão de voto.

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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