A educação é uma prioridade que acaba ficando de lado

Por Elis Radmann

A educação não lidera a lista de prioridades do eleitor, mas não significa que não é importante. Como a saúde preocupa muito a população e a zeladoria e infraestrutura são visíveis desde quando a pessoa sai de casa até o seu destino, esses temas lideram as pesquisas de opinião, muitas vezes seguidos pela segurança pública.

Além disso, o eleitor tem pouca capacidade de comparação e de análise desta área. Muitas vezes, sabe que o aprendizado dos filhos pode não estar indo bem, mas não consegue projetar ou estimar o que falta. A dificuldade de objetivar as demandas ou mazelas da educação faz com que a pauta fique em quarto ou quinto lugar na agenda das eleições.

Durante as jornadas de pesquisas qualitativas realizadas pelo IPO - Instituto Pesquisas de Opinião, constata-se que os eleitores sabem apontar muitos temas que lhe são caros ou parecem não funcionar como deveriam. Quando se fala em educação, creches e a educação infantil são as principais reivindicações, tendo em vista a dificuldade de se conseguir vagas. Muitas vezes a família consegue vagas, mas é longe de sua residência.

No ensino fundamental, desde o fim da pandemia muitos pais têm a sensação de que seus filhos têm defasagem escolar e apontam a falta de conhecimentos clássicos como o domínio da tabuada. Merenda escolar também é um tema que está sempre presente nos grupos focais, tanto no que diz respeito à falta quanto em relação à qualidade da merenda.

O que o eleitor que tem filho em escola pública sabe reconhecer e relatar nas pesquisas é relativo à falta de professores. Dizem que há disciplinas que passam o ano sem um professor titular, com os filhos voltando mais cedo para casa. E durante as entrevistas, contam em detalhes os problemas de infraestrutura das escolas, desde goteiras, falta de classes, até a inexistência de locais adequados para recreação ou atividades esportivas.

Famílias com filhos no ensino médio de escolas públicas se envolvem menos no cotidiano escolar e avaliam que as escolas não têm preparado os jovens para o mundo do trabalho ou pra o ingresso na faculdade.

Mas, voltando ao cotidiano da porta para fora, os eleitores acabam tendo mais visão e leitura crítica dos temas do dia a dia e não percebem o papel transformador da educação. Se a educação fosse prioritária na agenda dos governantes, ela seria uma prioridade para os eleitores. 

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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