Uma reflexão sobre o rádio nas plataformas digitais

Por Leonardo Meneghetti, para o Coletiva.net

Leonardo Meneghetti é jornalista e apresentador do programa 'Debate Raiz' - Crédito: Antares Martins

A audiência nas jornadas esportivas dos chamados canais identificados começa a massacrar as rádios convencionais. Estou falando do mundo digital, em especial o YouTube. Fabiano Baldasso, por exemplo, com a sua Jornada Colorada, tem números impressionantes e uma hegemonia que deixa a concorrência muito atrás - mas muito atrás mesmo! Nas jornadas do Grêmio, há ainda certo equilíbrio, mas o canal de Alex Bagé, que começou as transmissões há oito meses, já dispara e alcança também o primeiro lugar.

E não são só estes canais. Nos jogos do Inter, o Vozes do Gigante também tem índices muito acima de rádios convencionais como Gre-Nal, Guaíba e Bandeirantes. E estas emissoras também acostumaram-se a perder, em jogos do Grêmio, para os canais Pachola TV e Rádio Imortal, por exemplo. Nem é adequado que se compare os números que estas rádios, tão tradicionais no FM, alcançam no YouTube diante dos canais de Fabiano Baldasso e Alex Bagé. A diferença é constrangedora. Estamos falando de 30, 40, 50 vezes mais!

Há programas de emissoras de rádio em Porto Alegre, de jornalismo e esporte, que não conseguem chegar a 50 ouvintes simultâneos no YouTube. Um fracasso!

Dos veículos tradicionais, a Rádio Gaúcha, que tem uma liderança absoluta de audiência em FM no segmento jornalismo e esporte, é quem mais compete. E investe. Lançou recentemente a Central do Torcedor, antecipando o início de suas transmissões, apenas no YouTube e não no prefixo 93,7. A ideia é interessante. Mas ainda parece uma experiência sem convicção. E precisa ser melhor executada. Os primeiros testes indicam que só isso não será suficiente para chegar perto do canal do Baldasso ou reverter a concorrência com a Jornada do Bagé. Na repercussão dos jogos, então, após o famoso "bola rolando", Baldasso e Bagé disparam na audiência, ampliando a diferença.

Observe que em muitas jornadas as emissoras de FM estão transmitindo, também no YouTube, simultaneamente jogos da dupla Gre-Nal. Ou seja, somando ouvintes que torcem para os dois times. Enquanto isso, os canais identificados estão ou com Grêmio ou com Inter. Portanto, segmentados, e trabalhando com um universo menor de seguidores. E vencendo a concorrência com esta segmentação. Será que há algum ensinamento aqui?

A reflexão que se impõe: os veículos mais convencionais e que tem marcas fortes como pilar (RBS, Guaíba, Pampa e Band) funcionam como se bastasse colocar a tradicional transmissão da rádio no streaming. E o YouTube não funciona assim. Costumo dizer que o fenômeno YouTube pode ser comparado à chegada da televisão aos Brasil, nos anos 1950. Ninguém sabe o tamanho desse bicho. Ninguém sabe exatamente como funciona. E nem onde chegará. É preciso estudá-lo. E ter humildade para querer aprender. Setenta anos atrás alguém imaginava que aquela caixa chamada tv teria tanto impacto na sociedade? Que ditaria moda, comportamento, hábitos e tudo mais? O YouTube é filho do casamento da televisão com a internet!

Portanto, vale olhar para o YouTube com mais atenção. E com a disposição de aprender, e não rejeitá-lo.

O público que está no digital quer muito mais que um espelhamento das transmissões convencionais do FM.

A forma de comercializar nas mídias digitais também não pode seguir o modelo dos veículos tradicionais. Nem todos entenderam isso ainda. Com exceção da Gaúcha, as rádios de Porto Alegre enfrentam tantas dificuldades de alcançar resultados que nem conseguem enviar profissionais para cobertura dos jogos da dupla Gre-Nal. É o famoso "tubo", inclusive com repórter no estúdio, "dublando" entrevistas da tv.  Na contra-mão disso, os principais canais digitais estão lado a lado com Inter e Grêmio. E, na maioria das vezes, com mais de um profissional escalado, com até dois repórteres, narrador e comentarista.

Outro ponto importante está na escolha dos profissionais. Da mesma forma que não são todos jornalistas que conseguem sair da escrita para a mídia eletrônica, nem todos comunicadores se adaptam ao YouTube. Por que uns conseguem e outros, embora conceituados e respeitados, não vingam nesta plataforma? Talvez este seja o primeiro passo a ser estudado por gestores de rádios que pretendem ter êxito com suas emissoras no mundo digital. Afinal, se o rádio é feito por comunicadores?o YouTube também é.

Então, para quem não acha que já sabe tudo: o negócio é estudar esta ferramenta de distribuição de conteúdo do Google. Entender o negócio YouTube, o que buscam os seguidores, consumidores e anunciantes desta plataforma. Vejo este como o melhor caminho. Está valendo a recente atualização sobre a máxima de quem manda na floresta:  já não é o mais forte; e sim quem melhor se adapta às mudanças.

Leonardo Meneghetti é jornalista e apresentador do programa 'Debate Raiz'.

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