Por que e até quando?

Por Liana Bazanela

O esporte deveria ser um campo de respeito, disciplina e trabalho em equipe. Contudo, ainda testemunhamos comportamentos que contradizem esses valores, especialmente em relação às mulheres que atuam na área. A recente resposta do técnico do Palmeiras, Abel Ferreira, a uma pergunta da jornalista Alinne Fanelli, na qual ele afirmou que só devia explicações para sua mãe, sua mulher e à presidente do clube, nos faz pensar e interrogar: por que e até quando situações como essa continuarão a ocorrer?

Por que e até quando mulheres que atuam no esporte precisam passar por esse tipo de constrangimento em suas rotinas de trabalho? A resposta do técnico à jornalista na coletiva de imprensa é mais um exemplo de uma série de episódios recorrentes que revelam a desigualdade e o desrespeito às mulheres no esporte.

Por que e até quando jornalistas como Renata Mendonca e Ana Tais Matos serão alvo de ofensas machistas simplesmente por exercerem sua profissão, comentando futebol de maneira competente e informada? Sua opinião deve ser questionada com base em seu conhecimento, e não em função de gênero.

Por que e até quando grandes profissionais como Renata Silveira terão que lidar com ataques misóginos, cantadas e comentários grotescos e sexuais? 

Por que e até quando programas terão que silenciar e/ou desativar o chat do vídeo de uma transmissão on-line de uma partida de futebol feminino por conta da enxurrada de comentários ofensivos à aparência e ao desempenho das atletas em campo? A violência online não é apenas um ataque pessoal, mas também uma tentativa de inviabilizar as atletas e silenciar vozes femininas em espaços tradicionalmente dominados por homens.

Por que e até quando profissionais como Camila Carelli serão ignoradas ou desconsideradas por fontes e colegas de trabalho? Por que e até quando uma mulher ainda precisará "provar" seu conhecimento de maneira tão repetitiva e desgastante?

Por que e até quando árbitras - aliás, todas as mulheres que estão na arbitragem sofrem com o preconceito e o machismo -  terão cobranças em dobro e serão vistas com desconfiança e como incapazes de exercer tal função com êxito, mesmo tendo sido aprovadas nos mesmos testes físicos e teóricos? 

Por que e até quando teremos a dúvida e questionamentos sobre a competência das poucas mulheres que atuam em áreas de gestão no futebol, em posições de direção, mesmo elas mostrando e comprovando com resultados que gênero não é pré-requisito para sucesso? 

Apesar dos avanços na representatividade feminina no esporte, o ambiente ainda está longe de ser verdadeiramente inclusivo. A presença de mulheres é frequentemente questionada e, em muitos casos, atacada de maneira direta ou sutil.

Por que, em pleno século XXI, mulheres ainda enfrentam essas barreiras no esporte? Até quando elas serão obrigadas a suportar desrespeito, agressões verbais e atitudes misóginas em seu cotidiano de trabalho? Até quando teremos que ouvir que nossa reivindicação por respeito é "mimimi" ou foi um tema "mal-interpretado? Até quando vamos continuar assistindo episódios como este e recebendo notas de "pedidos de desculpa orquestrados"  para minimizarmos o desrespeito inaceitável com as mulheres? 

Precisamos exigir que o respeito e a igualdade de gênero sejam não apenas valores declarados, mas efetivamente praticados no esporte e na vida. Somente assim poderemos garantir um ambiente verdadeiramente justo e inclusivo, onde todos, independentemente de gênero, possam contribuir e ser reconhecidos por sua competência e dedicação.

Liana Bazanela - Ex-Diretora de Marketing do Sport Club Internacional

 

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