O que é inovar?

Por Silvio Pilau, para Coletiva.net

Nos últimos dias, devo ter lido e ouvido a palavra "inovação" mais vezes que meu próprio nome. Primeiro porque esse foi o tema de uma campanha muito bacana que fizemos na agência - infelizmente para vocês, por se tratar de uma licitação, terei que mantê-la a sete chaves. E segundo porque passei a última semana em terras cariocas participando da Rio Innovation Week, uma das maiores conferências do planeta sobre tecnologia, comunicação e, obviamente, inovação.

Antes de falar um pouco sobre o que vi no evento, uma historinha rápida. Aconteceu nas etapas iniciais de criação da campanha que citei acima. Em uma agenda para avaliarmos a proposta que a equipe estava desenvolvendo, senti falta de alguma ideia diferenciada de mídia ou de alguma ação capaz de surpreender o público. Tínhamos um forte conceito de campanha, mas a estratégia de distribuição ainda estava bastante quadrada.

"Estamos dizendo que somos inovadores, mas não estamos mostrando isso na forma de entregar a mensagem", comentei.

Alguém da minha equipe pontuou: "É que não temos verba para isso. Qualquer ideia de inovação que tivermos vai ser muito cara".

Essa manifestação despertou um alerta no meu cérebro. Comecei a pensar: quantas pessoas associam o conceito de inovação unicamente a algo tecnológico? Tenho certeza de que, se fizermos uma pesquisa rápida na rua sobre o que é inovação, boa parte dos entrevistados vai ter a mesma percepção externada pelo profissional do meu time. A maioria provavelmente vai dizer que vê inovação como alguma ideia mirabolante com elementos futuristas ou como algum aparelho moderno e cheio de neón que ninguém nunca viu antes. Algo saído diretamente de um filme de ficção-científica hollywoodiano.

Essa percepção não poderia estar mais equivocada. A inovação não precisa estar, necessariamente, atrelada à tecnologia. Inovar é simplesmente pensar diferente. É fazer diferente. Inovar é oferecer ao mundo uma nova forma de olhar para algo que já vimos milhares de vezes. É oferecer outro caminho. É olhar para a esquerda quando todos olham para a direita. É juntar dois clichês para criar uma ideia inédita. Ou, como respondi para o time quando surgiu a fala sobre não termos verba para inovar: "Às vezes, um adesivo de dez reais com uma mensagem surpreendente em um local inesperado é mais inovador do que um aparelho tecnológico de cem mil reais."

Eu poderia estar falando bobagem quando disse isso a ele, mas felizmente escapei dessa vergonha. E o que me dá certeza disso é todo o conteúdo compartilhado nos quatro dias da Rio Innovation Week. Sim, tinha por lá um estande com batalhas entre robôs - inclusive com locutor ao estilo Galvão Bueno narrando efusivamente os embates. Sim, a Inteligência Artificial foi um dos assuntos mais recorrentes dos painéis. Sim, havia tecnologias que pareciam saídas diretamente da mente peculiar de Nikola Tesla - o estande com raios cujos sons interpretavam músicas famosas sempre parava o evento. Mas os temas eram muito, muito mais abrangentes do que isso.

Da singularidade em buracos negros à criação do Rock in Rio, da inclusão de minorias no ambiente corporativo a como ser mais efetivo na educação de alunos, da imprevisibilidade do processo criativo a lições sobre liderança com um dos maiores gênios da história do futebol, a Rio Innovation Week deixou claro que inovação não é sinônimo de tecnologia. A tecnologia é uma ferramenta para a inovação, não a própria. 

Precisamos lembrar que a tecnologia, como a conhecemos hoje, surgiu há pouco tempo na trajetória da humanidade. Mas a capacidade de inovar sempre esteve presente em nossa caminhada. O primeiro homem das cavernas que criou fogo batendo duas pedras uma na outra inovou. A tribo de caçadores-coletores que cansou de correr atrás do alimento todo dia e decidiu plantar também inovou. Charles Darwin, quando publicou uma teoria que contrapôs a doutrina religiosa ao mostrar que somos resultado de mutações genéticas que nos tornaram mais aptos a sobreviver no mundo natural, teve possivelmente a ideia mais inovadora da história.

É importante entendermos essa diferença, pois uma associação imediata e obrigatória entre inovação e tecnologia não é somente equivocada, mas perigosa. Ela pode enfraquecer a nossa capacidade e o nosso ímpeto de buscar o novo. E é exatamente nessa busca constante que mora a verdadeira essência da inovação.

Algo que, felizmente, está ao alcance de todos.

Silvio Pilau é Gerente de Operação da agência Engenho de Ideias. 

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