Não seja o chato da internet

Por Maicon Hinrichsen, para Coletiva.net

A comunicação nas redes sociais, um fenômeno multifacetado e intrincado, tem gerado um conglomerado de complexidades sociocognitivas e tecnológicas. A ubiquidade dessas plataformas digitais propicia uma simultaneidade de interações virtuais, propensas à proliferação de fenômenos linguísticos e semânticos abstrusos. O entrelaçamento de algoritmos sofisticados e mecanismos de curadoria de conteúdo influencia significativamente a visibilidade e a recepção das mensagens, fomentando uma dinamicidade comunicacional que transcende as convenções tradicionais da semiótica. 

Talvez muita gente não chegue até este parágrafo. E eu não os julgo. Também não teria chegado até aqui ileso, sem ter sido tomado por uma grande sensação de tempo perdido. A primeira parte deste texto tem nove linhas, todas elas geradas por inteligência artificial, que não dizem absolutamente nada. São frases vazias, complexas, que só vendem uma ideia de que quem as escreveu é um ás no assunto. Este primeiro trecho consome quase 35 segundos de leitura de pessoas que não têm mais tempo a perder - ou que foram formatadas a pensar assim, diante da enxurrada de informações que consumimos durante o dia.  Nos media trainings da Critério, usamos uma frase do cartunista Scott Adams, criador dos quadrinhos Dilbert: "Um bom argumento em cinco frases influenciará mais as pessoas do que um argumento brilhante em cem frases". Imagine um vídeo, no Instagram ou TikTok, que tivesse começado igual ao primeiro parágrafo deste texto. Qual a chance de você ir adiante e não se envolver com este conteúdo? Esse é o problema que mais afeta quem quer se promover nesses meios de comunicação sem entender como eles funcionam. Ou melhor, como o público dessas plataformas se comporta. 

Há quem queira ser visto como um expert e cria um personagem que usa palavras difíceis, dá dicas e conselhos abstratos, fala muito e não diz nada. Há, também, os prolixos. Começam falando de um assunto, que puxa outro e, quando vê, saiu de "como declarar imposto de renda" para "saiba os ascendentes do seu signo". No fim, o que era para ser um vídeo assertivo se tornou um produto descartável, pelo simples fato de o objetivo de comunicação não ter sido bem definido antes de tudo começar.  Não podemos esquecer daqueles bons teóricos e pouco práticos. Não que isso seja ruim, pelo contrário. Como bem alertou o sócio-fundador da Critério, Cleber Benvegnú, em um comentário recente sobre teoria vs prática: você pode ser um bom palestrante, um bom ensinador, mas o público gosta, também, de ver resultados. Se não, você se torna o famoso "faça o que eu digo, não faça o que eu faço". Então, mostre seu repertório, seus feitos. É receita de bolo completa. Diga os ingredientes e mostre como fazer.  Roteirize, revise, treine, acerte

Este artigo começou da forma errada, então vamos consertá-lo: você precisa prender o seu público nos primeiros dez segundos. Faça um roteiro e tenha em mente a linha de raciocínio que quer seguir, para ser mais fácil manter-se firme à ela. Comece pelo assunto-chave, traga para os primeiros segundos o ponto principal do seu material. Pode ser uma dúvida pertinente, um acontecimento factual ou qualquer situação que você possa usar como gancho. Eu sei, nenhum assunto complexo pode ficar refém de ser tratado de forma rasa em vídeos curtos. E não é este o objetivo. Quero aqui dizer que ninguém vai se interessar pelo assunto se você for chato e começar a enrolar logo de cara.  Segundo: seja a melhor versão de si mesmo. Parece óbvio, mas precisa ser dito. Em um texto, você até pode usar palavras difíceis e fingir um falso intelecto para construir a sua narrativa. Mas se na vida real você não fala assim, basta gravar o primeiro vídeo para que todos comecem a ver você como uma fraude. A base de uma imagem sólida está na consistência com que você se apresenta aos outros. Então, pare na frente do espelho e fale, fale quantas vezes for necessário. Grave vários vídeos, assista a si próprio. Seja autocrítico e saiba reconhecer as suas dificuldades. Trabalhe elas. Peça a avaliação de alguém. É difícil conquistar o poder da oratória, e só a prática leva a isso.

Terceiro: faça o possível para desburocratizar as informações que você quer passar. Tenha certeza de que o que é óbvio para você, não é para outra pessoa. Se você for um advogado e falar só juridiquês nas redes sociais, provavelmente seu caso já estará perdido. Se não tiver como fugir de termos ou siglas, explique-as. Dê exemplos práticos.
Roteirize, revise, treine, simplifique. As redes sociais não são nossos únicos canais de comunicação, mas são uma ferramenta gigantesca para alcançar objetivos. Se você errar lá, você perde pontos significativos na corrida para conquistar o seu público. Ninguém nasce sabendo como fazer isso. Tudo é prática, e é praticando que acertamos. 

Maicon Hinrichsen é jornalista e videomaker, integra o Núcleo Audiovisual da Critério.

 

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