A Propaganda não pode tudo

Por Iraguassu Farias, para Coletiva.net

Em Sun City, o enredo do filme centra em três pecados: bebida, jogo e prostituição. Esta opinião não é excessivamente moralista, embora guarde relação com uma visão não muito liberal. Mas é uma reflexão que acho necessária, e é um endosso a de Eduardo Moreira.

Não avoco a liberdade de expressão e não quero transitar por uma pauta de costumes, tão debatida hoje por parte de uma população mais conservadora. Há algum tempo, nossas telinhas eram invadidas pela propaganda massiva de marcas de cigarro. Quem não lembra do cowboy da Marlboro, da associação do Hollywood com esportes radicais - só pra ficar em dois exemplos? Com o tempo, foram proibidas, visando especialmente privar as crianças e velhos, como eu, que se sensibilizavam com este apelo. Hoje, fumante, sinto-me pária e criminoso, que se constrange em alguns lugares, especialmente diante de olhares censores. E não me defendo.

O álcool, outro a tributar valor a si através de belas propagandas, usou e abusou de comerciais estrelados por belas mulheres e é grande investidor em mídias de massa. E chegamos nas bets e seus escândalos sem fim, com supostos vínculos com lavagem de dinheiro e até crime organizado (há quem vá mais longe). O fato é que há relatos e pesquisas de uma enormidade de pessoas altamente endividadas (até mesmo suicidas) e que perderam o pouco que tinham com jogo do Tigrinho e outros quetais.

Qualquer semelhança com tragédias ligadas ao consumo de drogas não é mera coincidência. A adrenalina, esta "maldita", é logo ativada com o impulso visual. E quando se adentra então no jogo, "deu pra bola". Mas aqui falo da grande mídia, da TV aberta em especial, que invade casas auxiliada pelo celular e pelo tablet, e nos encanta, nos leva para o prazer.

Cada um sabe o que faz e é responsável pelos seus atos, dirão. É verdade. Mas uma parcela da população, crianças e adolescentes, pode ser refém de armadilhas. E até que possam ser suficientemente capazes de decidir com discernimento, cabe aos adultos e governantes darem os contornos da moldura nas quais podem ser inseridos.

Neste final de semana, diz Eduardo Moreira, num clássico do Brasileirão, reunindo equipes paulista e carioca, lá estavam os três pecados de Sun City: uma aguardente de cana, uma bet e uma marca chamada Fatal Model. Em uma emissora com alcance nacional. Pronto! Fechou o trio....vá lá ver.
Um site de prostituição, em rede nacional, programa de Classificação Livre, e que, pasmem, é patrocinador do Campeonato Carioca, oferece chuva dourada e chuva marrom, que consigo intuir o que sejam. E o sonho de consumo é uma bela garota, por R$ 1.200,00 a hora. Isto: compra-se, consome-se....

A propaganda pode tudo? Não sei. Acho que não. Pelo menos, penso que certas coisas não podem estar ao alcance de qualquer criança. Não deveriam, pelo menos, serem em horário livre, num esporte que é paixão nacional, numa emissora de altíssimo alcance.

O que mais virá depois? Ah...um clube de futebol está em negociação com a Fatal Model para o name right do seu estádio. Loucura, loucura, dizia um apresentador.

Não é julgamento moral? Cada um faz o que quer. Mas tem limite, não?

Iraguassú Farias é diretor Comercial de Coletiva.net. 

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